Marina 25/04/2021DesiludidaComo filósofo, Nietzsche é um ótimo poeta.
Esse é o segundo livro que leio do autor, o primeiro foi assim falava Zaratustra, de que gostei mil vezes mais.
As críticas do escritor às hipocrisias e absurdos da moral cristã são sagazes e bem colocadas. O tom irônico e a habilidade com as palavras também são geniais, assim como um ou outro dos muitos aforismos, que por vezes são bastante inteligentes e inovadores.
Confesso que a paixão que ele coloca na escrita também me tocou positivamente, assim como o amor dele pela vida, saúde, prazer, corpo e vitalidade.
Apesar disso, essas qualidades não são suficientes para levar a leitura sem sentir que o sonho de Nietzsche é uma distopia.
A defesa de uma sociedade estratificada e dividida entre superiores e inferiores, servos e mulheres submissos e senhores fortes e dominadores, só não é mais cruel por ser extremamente romantizada, o que remete imediatamente a romances de cavalaria.
Se por um lado ele critica de forma extremamente perspicaz problemas da sociedade moderna, por outro ele não consegue enxergar de forma objetiva as sociedades antigas, glamourizando-as e acreditando que o mundo era muito melhor no passado.
Não consigo pessoalmente ter raiva do autor. Lendo sua biografia entendemos o tanto de sofrimento pelo qual passou, e se tornam mais compreensíveis as suas tentativas de fugir para um mundo de heróis nobres de uma outra época.
Agora, me assusta o tanto de gente que concorda com os textos ainda hoje e consegue defender de forma acrítica as falas dele. A gente percebe o quão esse imaginário de nobreza, servidão, dominação, submissão de mulheres, velhos, doentes, dentre outras passagens bem problemáticas, ainda continua fortemente presente na sociedade ocidental.