spoiler visualizarJadna.Sena 13/02/2022
"O diabo não há! É o que eu digo, se for... Existe é homem humano. Travessia".
O livro é um monólogo, no qual é narrado por Riobaldo, um ex-jagunço que já está na velhice. Ele aborda, comenta, reflete e se questiona sobre temas metafísicos como Deus e o diabo (bem e mal), assim como, temas existencialistas como a vida e a morte (coragem e medo). Inclusive, reflete e trabalha esses paradoxos e contradições ao longa da história ilustrando ao contar casos de outras pessoas e de sua própria vida. Aliás, ele discute com um possível interlocutor se o diabo existe ou não, pois, ele tentou fazer um pacto, mas, não sabe se deu certo. O livro começa sendo narrado de forma não-linear, porém, depois começa a ser contado de forma linear e cronológica.
Ele aborda sua vida desde sua infância até sua vida atual. Sendo boa parte dela, sua vida na jagunçagem, no qual conhece Reinaldo, mas, cujo nome é Diadorim. Porém, ele descobre que Reinaldo era o menino que ele tinha conhecido na infância. Riobaldo demonstra amar Diadorim e Diadorim parece ama-lo. Mas, o chefe dos jagunços, Joca Ramiro, é morto por Hermógenes e Ricardão. Joca Ramiro era pai de Diadorim, então, ele quer vingar a morte do pai. Por amar Diadorim, Riobaldo embarca nessa travessia. Inclusive, ele tenta convencer Diadorim para que eles fujam juntos, mas, ele quer vingança. No dia a dia da jagunçagem, Riobaldo conhece Otacília e promete se casar com ela.
Devido as dificuldades para executar a vingança, Riobaldo acaba fazendo um pacto com o demo, no entanto, não sabe se deu certo. Porém, seu comportamento mudou totalmente. Ele parece estar mais corajoso, se torna chefe e começa guiar a tropa. Diadorim diz que tem um segredo para contar depois que tudo terminasse. Eles enfrentam os Judas e ganham as batalhas. Infelizmente, Diadorim morre no enfrentamento com Hermógenes. Riobaldo chora amargamente e descobre que Diadorim não era homem, mas, uma mulher.
Ele fica muito mal com o acontecimento e acaba adoecendo. Ele retorna e segue sua vida, se casa e recebe a herança do pai. Ele conclui que o diabo não existe, o que existe é o homem humano, ou seja, a travessia/existência. Percebe-se fortes aspectos do existencialismo como a questão da liberdade, as escolhas que fazemos para a nossa vida possuem consequências e que são elas que vão definindo quem somos. Embora, não tem como definir o ser humano como algo certo, porque está em constante mudança. Portanto, quem rege a nossa vida não é o diabo ou Deus, mas, nos próprios através das decisões que tomamos para nossa existência.
Dessa forma, o desfecho final é resultado das escolhas de Diadorim e de Riobaldo. Embora, possa se pensar que o pacto que Riobaldo fez para vencer os Judas e, em troca, o diabo levou a pessoa que ele mais amava, no caso, Diadorim. Observa-se na narrativa que Riobaldo oscilava entre medo e coragem, enquanto que Diadorim era muito corajoso. Parece até Diadorim não era humano.
As certezas e incertezas são trabalhadas: somos bons ou maus? Corajoso ou medroso?... Parece que a única certeza que temos é a cerca da incerteza. Inclusive, Riobaldo tinha atração por mulheres, mas, ele gostava de Diadorim que se identificava como homem. Ele era hétero ou homossexual? Porém, no final das contas, ele tinha se apaixonado “certo”. Foi o amor que Riobaldo tinha por Diadorim que fez com que ele permanecesse naquela vida e fizesse o que fez. Ele encontrou sentido para sua vida no amor.
É uma história que vai para além do sertão, é sobre a vida e o viver. “Viver é muito perigoso”.