Léo Araújo 07/04/2023
O poder da transformação em um ser humano
Tchekhov usa a paisagem desolada da estepe russa para criar uma atmosfera melancólica e introspectiva, que é refletida nos pensamentos de Iegóruchka, a criança de 9 anos que foi enviada pela mãe para estudar.
Embora "A Estepe" seja um conto relativamente curto, Tchekhov consegue criar um retrato vívido da vida na Rússia do final do século XIX, ao mesmo tempo em que oferece uma reflexão profunda e comovente sobre a condição humana, explorando temas universais, como a solidão, a busca por significado, conexão com outras pessoas, a busca pelo poder, dinheiro e a mortalidade.
Enquanto Iegóruchka viaja com seu tio, o comerciante Ivan Ivánitch e o padre Khristofor Siríiski, há uma descrição sobre a estepe que parelha com a vida vivida ou que estar por vir, demonstrando o quão arrastada e sem propósito pode ser quando não se tem um objetivo definido.
No decorrer da narrativa, enquanto claramente se vê a busca incessante de Ivânitch por Varlámov (a busca pela riqueza e poder ao ponto de sacrificar a família) e a grande felicidade e satisfação do padre estampada em sua feição e fala (a religião o livra das preocupações referente a posses), Iegóruchka vai passando pela grande amadurecimento da vida e desmame da mãe, apesar dos 9 anos.
De fato, ao ser inserido no comboio de mujiques para finalizar sua viagem pela estepe, Iegóruchka é submetido um processo de transformação, com diversas intempéries, situações, sentimentos e personagens, como Pantelei, Emelian, Vássia, Dímov e Kiriukha, que o leva a conclusões e constatações sobre a vida. Aqui, na viagem, temas como mortalidade, senso de pertencimento, conexão pessoal, enfrentamento e solidão estão bem apresentados.
Ao final, tendo refletido sobre como cada um enxergava seu passado e futuro, Iegóruchka concluiu que ser mujique era maçante e desagradável e chorou com amargor sobre a nova vida, desconhecida, perguntando-se que nova vida seria aquela.
Tchekhov deixa margem para o desconhecido imaginativo do leitor com essa pergunta saborosa.