Carol 11/10/2021Impressões da CarolLivro: A estepe {1888}
Autor: Anton Tchékhov {Rússia, 1860-1904}
Tradução: Rubens Figueiredo
Editora: Companhia das Letras
144p.
Não gosto de ler livros cujo protagonista seja uma criança, pois costumam descambar para a síndrome da criança gênio, insuportável. O que, felizmente, não é o caso do incrível "A estepe" e de seu protagonista Iegóruchka.
Tchékhov consegue expressar toda a ansiedade, receio e insegurança que um menino, com nove anos, afastado de sua mãe e enviado a uma viagem pela estepe russa rumo a uma cidade desconhecida para continuar seus estudos, sentiria numa situação dessas.
Iegóruchka é um personagem adorável. Na imensidão da estepe, ele se adapta e se orienta, é uma criança esperta e crível para sua idade. Por meio do seu olhar, temos um retrato dessa Rússia que vê com nostalgia um passado mitificado e vê, com desconfiança, o que virá. Nos perdemos na imensidão dessa estepe que é vivificada, é passagem, é ruptura e parte essencial do seu amadurecimento.
É Iegóruchka quem alinhava os personagens que percorrem a estepe: o afetuoso Padre Khristofor e o tio Kuzmitchóv - seus companheiros no início da jornada - o misterioso Varlámov, o apaixonado Konstantin e, finalmente, o comboio de mujiques, Pantelei, Emelian, Vássia, Dímov e Kiriukha.
?É muito difícil pensar num autor com uma escrita tão bonita, tão concisa e tão apaziguadora quanto Tchékhov. Lê-lo é ser transportado a outro tempo, é ser levado à reflexão. Como nesse trecho:
"Quando contemplamos o céu profundo por muito tempo sem desviar os olhos, não se sabe por que, os pensamentos e a alma se fundem na consciência da solidão. Começamos a nos sentir irremediavelmente sós e tudo que antes achávamos próximo e familiar se torna infinitamente distante e sem valor. As estrelas, que miram do céu há milhares de anos, o próprio céu insondável e a escuridão se mostram indiferentes à vida breve dos homens e oprimem nossa alma com seu silêncio, quando? acontece de ficarmos cara a cara com eles e tentamos alcançar seu sentido". p. 85.
Li "A estepe" para o Clube do Livro Russo e foi daquelas leituras unânimes. Indico com fervor. Deem uma chance a Tchékhov.