spoiler visualizarEmmilyvaladarescabral 21/12/2022
Impactante. Dolorido. Necessário.
K. Relato de uma busca de Bernardo Kucinski é um livro extraordinário, que narra acerca do desaparecimento de sua irmã e do marido dela, tendo como foco o seu próprio pai - um judeu polonês, vítima do holocausto, que veio para o Brasil buscar refúgio e ficar longe do terror que se instalava no seu país, acreditando que aqui encontraria paz e tranquilidade. Ledo engano. Infelizmente.
Do início ao fim do livro eu me desmanchei em lágrimas, Kucinski relatou os possíveis/supostos acontecimentos de maneira ?nua e crua?, eu sentia na pele tudo o que presos políticos deviam ter passado, o quanto sofreram e foram maltratados... Foi um livro extremamente difícil de ler, de concluir, porque eu achei que não ia ter forças de continuar lendo, fiquei um tempo deprimida, horrorizada.
Como foi possível tanta crueldade, opressão e torturas? Como é possível que em pleno 2022 ainda existam pessoas que defendem a ditadura militar? Que exaltam os verdadeiros criminosos como se fossem ?heróis?? Enfim... São tantos questionamentos...
Embora tenha sido uma leitura difícil, impactante e dolorida, esse livro é necessário. De leitura obrigatória, inclusive. É apenas conhecendo o passado que seremos capazes de não repeti-lo, parafraseando George Santayana.
E, conforme Maria Jandyra Cavalcanti Cunha: "O filósofo francês Maurice Halbwachs afirmou que a memória coletiva não é sonho, é trabalho. Ao lembrarmos, não revivemos, mas refazemos, reconstruímos, repensamos com ideias de hoje as experiências do passado. A memória coletiva é a solução do passado no presente".
? Citações:
?Tudo neste livro é invenção, mas quase tudo aconteceu."
?Correio e banco ignoram que a destinatária já não existe; (...) A destinatária jamais aceitará a proposta mesmo não havendo cobrança de anuidade (...) tudo isso que ela teria mas não terá, tudo isso que quase não havia quando ela existia e que agora que ela não existe lhe é oferecido; inventário de perdas da perda de uma vida.?
?O Estado não tem rosto nem sentimentos, é opaco e perverso. Sua única fresta é a corrupção. Mas às vezes até essa se fecha por razões superiores. E então o Estado se torna maligno em dobro, pela crueldade e por ser inatingível.?