cintia 20/08/2023
"É impossível competir com os mortos."
Mesmo que o livro seja comercializado como um suspense criminal, acho que ler essa história buscando um grande mistério que deve ser resolvido não é uma boa escolha e pode decepcionar alguns, até porque ele pode ser um pouquinho previsível. Por isso, eu diria que o livro é uma narrativa profunda e crua sobre traumas geracionais e a natureza da violência.
e não tem modo melhor de explorar esses temas do que fazendo exatamente o que gillian flynn fez: usar uma pequena cidade conservadora do interior como um mini-cosmos que representa os piores aspectos da sociedade: narcisismo, elitismo, machismo, negligência e abusos. tudo isso é muito bem explorado por meio dos pensamentos de camille, uma personagem feminina muito complexa, com emocional abalado e uma família muito disfuncional.
foi uma leitura que me fez pensar na complexidade dos relacionamentos entre mães e filhas, que normalmente são idealizados como puros e sem defeitos, mas são muito conturbados por fatores externos. me fez pensar sobre como o sexismo não é apenas um problema superficial presente na sociedade, mas como ele afeta tanto o estilo de vida quanto o emocional das pessoas, tanto homens como mulheres. me fez pensar sobre como a violência está presente no dia a dia até nos menores atos das pessoas, mas é ignorada até que algo catastrófico aconteça.
é um livro muito explícito, em que todos os personagens são moralmente corruptos e cabe ao leitor refletir o porquê disse e em quem cai a culpa. também é um livro nojento e pesado, principalmente quando aborda temas de problemas mentais, então é preciso tomar cuidado com os gatilhos.
tem alguns defeitos e perguntas que não foram respondidas claramente, além de uma prolongação desnecessária em algumas partes da narrativa, mas foi uma leitura muito envolvente, ainda mais por ser o primeiro livro da gillian, e que me marcou muito.