Gininha 14/03/2010
Metáfora é quase sempre perigosa
O autor, Leonardo Boff, cujo pseudônimo é Genézio Darci Boff, é um renomado teólogo brasileiro, ex membro da ordem dos franciscanos, excomungado pela Igreja de Roma por ter voado mais alto do que devia, em suas idéias sobre a práxis cristã. O livro é uma metáfora com a condição humana, via história de uma águia que, capturada por um camponês, acostumou-se a viver entre as galinhas. Só que, um dia, um naturalista fez a águia enxergar-se a si própria e perceber que ela era bem superior às galinhas, com quem havia sido criada até então. Quando li o livro, literariamente bem escrito, confesso que fiquei com pena das galinhas, as quais, por vontade do Todo Poderoso, foi criada para voar baixinho, dando ligeiras corridinhas, ora atrás do galo, ora protegendo, com as asas, monte de pintinhos indefesos. Já a águia, mereceu alçar vôos bastante elevados, mais altos do que muitos aviões e, chegando lá em cima, mirar, com seu penetrante olhar de lentes poderosas, um simples peixinho, por exemplo, nadando na lagoa, e, então, iniciar um vôo super veloz para, com seu enorme bicão, zás! papar o pequeno animal aquático. Metáforas são perigosas, entre outras coisas por isto: fazem analogias quase sempre prejudiciais para seres que não têm culpa nenhuma de existirem para o que foram criados. Imagine se todas as águias papassem todas as galinhas. Acabariam os ovos e, com eles, as gostosas fritadas e omeletes, bem como, já não teríamos frango assado, nem galinhas de cabidelas. Ao passo que seria duvidoso que passássemos a comer ovos de águia, ou mesmo águia ao molho pardo ou algo assim. Tem muito país por aí fazendo que nem as águias: alçando alturas inimagináveis, instalando bases aéreas no espaço, dotadas de armas supersônicas, com alto poder de detectar simples formiguinhas e, em seguida, zás! arrasar populações, sobretudo aquelas que, como as galinhas, não podem voar tão alto. Então, o estímulo para que seres humanos se desenvolvam, se é meritório, deve ser instigado com certo respeito àqueles que, por ordem do Todo Poderoso (já que o autor é fã de Deus), ou por injuções socioeconômicas adversas, sequer podem sonhar em subir ao pódio da vida.