Henrique 10/04/2013
Literatura filosófica: quando o pensamento se torna um fenômeno estético.
A influência filosófica nos escritos de Borges é latente. O próprio autor assume o papel importante que os pensamentos filosóficos desempenham em seus escritos. Em Ficções, a fusão literatura-filosofia chega ao seu ápice com a letra borgeana. Os temas principais do escritor argentino estão presentes na sua mais alta formatação nesta obra: a metafisica, o universo, a inexorabilidade da vida, a negação da liberdade, o outro. É o tratamento estético desse tipo de indagação filosófica que confere a originalidade de Borges, o argentino faz menos revestir o pensamento filosófico com uma camada estética, do que fazer do pensamento a matéria prima da expressão da beleza, ou seja, em Borges, a intelectualidade não é trajada com a beleza, mas sim se converte no próprio belo. Borges traz ideias filosóficas como argumento para cada um dos dezesseis contos, a filosofia se torna bela, o belo chega ao seu mais alto grau - como imagina Platão - quando se torna intelectual. Platonicamente, Borges é a culminância do Belo. O leitor se deparará, em Ficções, com uma leitura com cadência lenta, é uma leitura serena, contemplativa, labiríntica por vezes, mas que faz você ler e reler; muitas vezes o leitor sentirá a necessidade de ler os contos novamente, não por incompreensão, mas sim para vislumbrar mais um dos vários sentidos que cada uma das peças carrega, para fazer um novo trajeto no labirinto de Borges. Ficções é um livro circular, isto é, para ler e reler infindáveis vezes, desde o primeiro conto isto fica explícito. Borges faz ficção da ficção, leva a ficção, portanto, até um nível mais profundo, guiando o leitor por todo o labirinto que não é apenas superfície, mas sim se divide em camadas diversas, este é o mote que constitui seus contos. Borges escreve ideias profundas em poucas linhas, a concisão de seu estilo espraia complexidades de modo simples sem deixar que percam seu vigor, sua escrita serve ao propósito estético de fazer o intelectual expressar o Belo. O leitor versado no pensamento idealista, na tese do tempo circular encontrada, por exemplo, em Nietzsche, terá uma compreensão assaz fecunda da obra. Em suma, Ficções é uma leitura ficcional como o próprio título deixa ver, mas é uma ficção intelectual, sem precedentes. É um livro inesgotável, predicado da eternidade, um livro eterno, destarte. O que Borges sempre buscou e tomou como ofício do escritor é concretizado em Ficções: a expressão da eternidade.