Coisas de Mineira 29/04/2021
Antes de qualquer coisa, já vou deixa um aviso, esse livro tem bullying, suicídio, violência. Então caso não aguente esses temas, peço que não continue a ler a resenha, nem o livro. É importante reconhecer os gatilhos que as leituras podem trazer.
Imagine seu namorado entrando com uma arma e atirando em pessoas dentro da sua escola? Essa é a história da resenha de hoje: “A lista do ódio” escrito por Jennifer Brown e lançada pela editora Gutenberg em 2019. Apesar de eu ter lido ele em uma versão de 2019, a primeira vez que a editora publicou o livro no Brasil foi em 2015 com o nome “A lista negra”. Além do nome e a diagramação, a diferença entre as duas edições é a presença do conto “Diga alguma coisa”. Então vamos a história?
Valerie e Nick namoram há três anos e os dois sofrem bullying na escola. A garota, que antes sofria sozinha, encontrou em Nick uma fortaleza, para enfrentar os valentões da escola e para escapar da confusão que está a sua família, com os pais sempre brigando. Os dois têm algo em comum, Valerie começou uma lista de pessoas e coisas que odeia e Nick começou a ajudá-la a preencher essa lista. Quando na manhã do dia 2 de maio, Nick entra na praça de alimentação da escola e começa a atirar, Valerie percebe que ele está atirando nas pessoas que estão na sua lista do ódio.
“Será que eu fui a bandida que criou o plano para matar metade da minha escola ou a mocinha que se sacrificou para acabar com a matança? Em alguns dias eu me sentia as duas. Em outros, não me sentia nem bandida nem mocinha. Era muito complicado.”
Em um rompante para fazer com que ele pare, ela entra na frente de uma bala que tinha como destino a menina que mais importunou Valerie na escola, fazendo com que a garota conseguisse fugir e ela fosse atingida. Quando acordou no hospital, descobriu que Nick havia se matado e que ela é considerada suspeita no tiroteio. Quando finalmente é liberada, depois de um testemunho de uma pessoa improvável inocentando Valerie, a garota tem que voltar à escola, onde sempre sofreu e uma tragédia aconteceu.
Foi grande não foi? Mas eu acho que essa foi a melhor maneira de dar uma sinopse para a história. Não se preocupem, não tem spoilers aí, tentei usar os acontecimentos comuns para a sinopse. A história não fala apenas do tiroteio, mas sim da volta de Valerie à escola, e como ela e todos os sobreviventes estão. Tudo isso, na visão de Valerie. Gente do céu, que livro foi esse viu? Na hora que li a sinopse já percebi que seria uma leitura forte, e no fim dela, não consegui segurar as lágrimas. Será que eram olhos nas minhas lágrimas? Não sei se vocês são assim, mas quando a leitura toca, eu não consigo segurar elas.
Vamos falar sobre alguns dos personagens? Vou começar com Nick, já começamos o livro sabendo que ele havia morrido, por causa da sinopse, e vemos um Nick que Valerie conheceu: um cara extremamente sensível e com um bom coração, que lia Shakespeare e fazia bem para Valerie. É pelo olhar dela, que vamos vendo o que levou ele a cometer a chacina e ainda assim, vários dos motivos ainda são obscuros para o leitor, mesmo com o conto final.
“Eu tinha mudado a mamãe. Mudado seu papel de mãe. Seu propósito não era mais tão fácil e claro como tinha sido no dia em que nasci. Seu papel não era mais me proteger do resto do mundo. Agora, seu papel era proteger o resto do mundo de mim.
E isso era injusto demais.”
Valerie é uma menina tranquila, por causa das roupas e da aparência ganhou o apelido de Irmã da morte e vive sofrendo bullying, diariamente, todas as horas em que está no colégio e até mesmo fora dele. Ela é diferente das outras garotas e isso faz com que ela seja um alvo. Além do bullying, Valerie estava passando por sérios problemas em casa, seus pais discutem muito, tornando a convivência insuportável. Depois do tiroteio, Valerie acaba perdendo a única pessoa com quem se sentia segura: Nick. Ela precisa aprender a viver com isso e com o que Nick fez. Ela precisa redescobrir quem ela é e o que é importante para ela. Temos vários momentos de descobertas para Valerie e de aceitação, não só do que aconteceu, mas no que isso fez com ela e com as pessoas à sua volta.
Os pais de Valerie, não vou separar eles, foram personagens importantes para a história de Valerie, entender a difícil relação deles tanto antes, quanto depois da tragédia, foi importante. Preciso dizer que mesmo no fim do livro, eu ainda não consigo engolir o pai de Valerie. De jeito nenhum. O Dr. Hieler é o psiquiatra de Valerie e tem uma participação muito importante na vida da garota, depois de todo o acontecimento. Sinceramente, todo o amor, que não consegui sentir para os pais de Valerie, sentia pelo dr. Hieler e por Bea, uma artista que aparece lá no meio da história.
“- Um é meu número favorito – sorriu Bea. – Em inglês, a palavra “um” tem o mesmo som do passado de “vencer” e podemos todos dizer no final do dia que vencemos de novo, não podemos? Em alguns dias, chegar ao fim do dia é uma grande vitória.”
Temos Jessica Campbell, aquele típico de menina bonita e popular, que transforma a vida de Valerie em um inferno, afinal, todas as brincadeiras que ela fazia, todos na escola seguiam. Jessica é o tipo de nome que estava na lista do ódio, mas quando Valerie entra na frente da bala que estava direcionada a ela, Jessica acaba vendo a vida de uma forma diferente. Será que as pessoas podem mudar? Rever suas atitudes, se redimirem e se transformarem em pessoas melhores?
Essa é uma pergunta que é feita durante toda a história: “Será que as pessoas podem mudar? Podem se redimir?” Essa é uma discussão que o livro traz, assim como o bullying. Será que aqueles que cometem bullying já nasceram para ser assim ou podem mudar seus atos? Outra das perguntas que os personagens se fazem. Jennifer traz também, uma reflexão muito grande sobre perdão. Sobre perdoar o outro e principalmente, se perdoar. “A lista do ódio” é uma história forte, muito forte, mas bem bonita e emocionante. Para aqueles que conseguem ler sobre a temática, esse é um livro que merece ser lido.
Vou falar um pouquinho do conto, mas sem dar nomes para não dar spoiler. Em “Diga alguma coisa” descobrimos que alguém sabia do tiroteio e não disse nada. Em uma série de pensamentos de “pode não ser o que está parecendo” vemos como uma pessoa tem a culpa e o peso de ter descoberto sobre o tiroteio e não ter impedido. Além de ter deixado Valerie aguentar toda rejeição sozinha.
“- O tempo nunca acaba – sussurou, sem olhar para mim, mas mirando minha tela. – Como sempre há tempo para a dor, também sempre há tempo para a cura. É claro que há.”
Esse conto é um fechamento para história, mesclando entre acontecimentos do penúltimo e último ano, o antes e o depois do tiroteio, conseguimos entender como alguém foi encaixando a peça e descobrindo o que iria acontecer. Depois, vamos vendo os motivos que levaram essa pessoa a guardar segredo e, como ela via os acontecimentos dentro do colégio Garvin. Foi literalmente um conto de conclusão e que eu julgo muito importante para a história, se alguém leu a história na primeira edição e não leu o conto, aconselho muito a leitura dele.
Jennifer Brown é uma aclamada autora de romance jovem adulto. “A lista do ódio” foi seu romance de estreia e foi selecionado como melhor livro para Jovens Adultos da ALA. Além de “A lista do ódio”, Jennifer tem no Brasil os títulos “Depois que tudo acabou”, “Mil palavras”, “Amor amargo” e “As fases da lua”, pela editora Gutenberg.
“Do jeito dela de ver as coisas, quanto mais as pessoas me “perdoavam”, menos eu tinha de me sentir culpada. Do meu jeito de ver… era exatamente o contrário.”
Por: Ana Elisa Monteiro
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