Emilia @biblioteca_decitacoes 07/07/2020O Nome da Rosa, Umberto EcoEsse foi o livro que eu escolhi para 7ª categoria do desafio livrada de 2020 (Um livro que você sempre teve medo de ler). Isso porque alguns anos atrás tentei lê-lo, mas fui espantada pelos diversos trechos em latim sem tradução que estão espalhados pelo livro. No entanto, achei que poderia utilizar esse desafio para tomar coragem para enfrentá-lo novamente hahaha.
A história pode ser considerada como um romance policial, ambientada em um mosteiro franciscano na Itália, no ano de 1327, portanto já no final da idade média. Narrada em primeira pessoa por Adso, um noviço que está acompanhando o frei Guilherme de Baskerville a uma visita ao mosteiro para desvendar uma série de assassinatos que estão ocorrendo no local. Guilherme é um tipo de Sherlock Holmes medieval, e seu ajudante Adso lembra também o Watson, companheiro do famoso detetive inglês.
Além das mortes misteriosas, durante a visita de Guilherme o mosteiro também vai sediar uma reunião entre personalidades importantes da Igreja Católica da época, que pretendem discutir algumas questões teológicas com muita importância política para Igreja. Esse concílio representará muito da rivalidade entre as diferentes vertentes da Igreja e das interpretações do evangelho, que são usadas como motivos para disputas de poder dentro da instituição. Essa rivalidade dentre da Igreja foi uma das questões mais interessantes do livro, para mim. Religiosos usavam interpretações diferentes das escrituras para apontar o outro como herege, o que levava muita gente à fogueira.
Outro tema abordado no livro é o papel da mulher na sociedade medieval. A Igreja Católica era a instituição mais poderosa e importante da época, e era composta somente por homens. A mulher era vista como tentação do demônio e uma porta para o pecado. As mulheres eram portanto instrumentos do pecado, acusadas de trazerem até os homens para puros para o lado do mal. Não era a toa que muitas eram vistas como bruxas, e morriam na fogueira.
Além disso, os livros e a questão do acesso ao conhecimento têm papéis fundamentais na narrativa. O mosteiro em questão possui uma biblioteca imensa e muito importante para a Igreja, que no entanto, tinha acesso extremamente restrito e somente o bibliotecário conhecia todos os volumes disponíveis e era ele quem decidia quem poderia ler o que.
O livro é rico em diversas discussões de cunho puramente teológico que muitas vezes se prolongam por diversas páginas, e que não me despertaram muito meu interesse. Além disso, é necessário parar diversas vezes para traduzir os trechos em latim, o que tornou a leitura um pouco cansativa em alguns momentos.
Umberto Eco foi um teórico que tinha como objetos de estudos diversas áreas das Humanidades, como filosofia, teologia, semiótica, história medieval, entre outros. Esses conhecimentos são todos refletidos nesse livro, que apesar de usar uma narrativa de investigação para contar a história, abrange diversas questões da vida humana em sociedade. A experiência que o leitor terá ao ler esse livro depende muito de quão profunda será feita a leitura. É uma narrativa que possui diversas camadas, portanto o leitor pode escolher o quanto era irá se aprofundar nos assuntos propostos pela história.
Por fim, é um livro que irá depender de uma maior dedicação por parte do leitor, porém todo esse trabalho será recompensado. Acho que é o romance mais bem trabalhado que já li, por envolver tanto conhecimento de fundo, sem que nada ficasse forçado. Todo o sucesso do livro é merecido.
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