Carla Brandão 26/06/2016Como muitas histórias de amor, a de Min Green e Ed Slaterton começa por acaso. Os dois estudam na mesma escola, mas não fazem parte do mesmo grupo de amigos. Min, apelido de Minerva, é a garota inteligente, fã de filmes clássicos e que sonha em ser diretora de cinema. Ed é o clichê das histórias adolescentes: cocapitão do time de basquete, bonito e popular. Os dois se conhecem quando ele e alguns amigos aparecem de penetras na festa de Al, melhor amigo de Min. Uma conversa do lado de fora da casa, uma troca de telefones e dá-se o início do fim.
Como muitos casais, os dois adolescentes são bem diferentes, mas a paixão inicial faz com que ambos tentem conhecer e fazer parte do mundo um do outro. Min abre mão de programas com os amigos para assistir Ed jogar, mesmo achando basquete muito chato, e ele, por sua vez, aceita assistir filmes que a menina adora e pelos quais ele não tem o menor interesse.
Como muitos relacionamentos, o de Min e Ed chega ao fim. Apenas algumas semanas separam o começo do final, mas quem pode medir a intensidade de um sentimento pelo tempo? Com o coração partido, Min escreve uma longa carta para seu ex-namorado e coloca em uma caixa, junto com vários objetos que marcaram momentos do namoro.
“Todo suvenir de amor que a gente tinha, os prêmios e os destroços dessa relação, que nem confete na sarjeta depois que o desfile passa, o tudo e o não sei que mais chutado para o meio-fio. Estou largando esta caixa toda de volta na sua vida, Ed, cada pertence do eu com você. Vou largar esta caixa na sua varanda, Ed, mas é você, Ed, quem está sendo largado.”
Cada capítulo do livro é referente a um objeto da caixa e à parte da carta na qual Min explica o que ele significa e o que tem a ver com o término. Tudo isso acompanhado pelas belas ilustrações de Maira Kalman, que ajudaram a tornar real a ideia de ir tirando um por um os objetos da caixa.
Ao relembrar as situações evocadas por cada entrada de cinema ou tampinha de garrafa, Min consegue se dar conta dos sinais de que o namoro não daria certo. Eles estavam bem ali, claros, óbvios. Mas na época ela não conseguiu enxergar. Ou não quis. Ou, ainda, achou que com eles poderia ser diferente.
Daniel Handler construiu personagens adolescentes com a imaturidade e a insegurança normais para a idade. A carta de Min não tem nada de profundo ou excepcional, são apenas palavras sinceras de alguém que teve sua primeira desilusão amorosa. Outro ponto a ser destacado no que diz respeito aos personages é que, apesar do clichê menina-inteligente-se-apaixona-pelo-garoto-popular, o autor conseguiu fugir aqui e ali dos estereótipos. Min não é caracterizada como feia, esquisita nem relata sofrer discriminações. Ed não é o típico jogador bonitão e burro, pelo contrário, é bem melhor em matemática do que sua namorada.
A criatividade de Daniel fica evidente nas inúmeras referências a filmes, atores e músicas que não existem! Para Min é quase impossível descrever um fato ou passar por alguma situação sem relacioná-los a algo que ela viu em um filme. São muitas as passagens nas quais ela descreve cenas inteiras de supostos clássicos. Demorei algumas páginas para desconfiar que era tudo criação do autor e, ao terminar a leitura e fazer uma pesquisa, veio a confirmação.
Por isso a gente acabou não é um livro surpreendente, antes de começar a ler já sabemos pelo título qual será o desfecho. Talvez por isso eu tenha ficado esperando por um motivo mais original para o namoro não ter seguido adiante. Ao mesmo tempo, o livro tem o poder de fazer o leitor torcer pelo casal, mesmo sabendo que o final feliz não acontecerá. É que, ao ler a carta de Min Green, conseguimos entender também porque eles começaram.
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