Bruno.Rafael 20/08/2020Extraterrestres, humanos, ciência, negacionismo, fé, religião, politíca, futuro, passado, vida, amor, Deus... “Contato” é um livro que trata, no tema geral, do contato entres os humanos e seres de outro planeta, e perpassa ao longo do livro por vários outros temas que na maioria são instigantes para o leitor fazer algumas reflexões. Às vezes parece que Carl Sagan é uma enciclopédia de tantos assuntos variados e referências de várias áreas que são citadas no livro. O autor chega até a pecar no excesso de linguagem técnica em alguns momentos, o que pode tornar a leitura um pouco cansativa e enfadonha em alguns trechos, principalmente para os leigos em física, astronomia e matemática, ao mesmo tempo que em outros trechos ele parece escrever uma poesia científica numa linguagem mais simples, tudo isso no mesmo livro, que parece ter sido o único romance do cientista.
A história gira em torno da protagonista Ellie, uma mulher que desde criança era curiosa e inteligente, vindo quando adulta a se tornar uma pesquisadora ligada a área da radioastronomia. Ellie dirige o projeto Argus que busca sinais de vida inteligente, e um dia acaba encontrando esse sinal em forma de números primos embutidos em um sinal de rádio vindo de uma estrela. Ao mesmo tempo que a narrativa tem todo um arcabouço científico para ir explicando o passo a passo da recepção da mensagem até a fabricação de uma máquina que irá levar nossa cientista a uma viagem inesquecível, a história também vai nos mostrando diversos pontos que não são relacionados à ciência, não a essas da natureza. E um desses pontos mais trabalhados foi a dualidade religião e ciência, mas acrescentaria mais um componente que pode fazer uma liga ou afastar os dois citados, que é a fé. Sim, a fé é trabalhada muitas vezes na narrativa como um componente a parte da religião. Esses debates que envolvem religião, fé e ciência é um, ou senão o ponto alto da história, levando-nos a pensar sobre coisas que não costumamos pensar, as vezes até por receio e medo de pensar sobre essas questões transcendentais. Mas Sagan é ousado e escreve quase que mini-ensaios pautados nessas questões, e tudo isso misturado e as vezes inseparáveis, como nos mostra a última página do livro.
Ainda, fala sobre economia global, fundamentalismo religioso, harmonia na religião, negacionismo cientifíco, geopolítica pautada no contexto da época da guerra fria, o papel das mulheres no mundo científico, os sacrifícios e as dificuldades que elas enfrentam nesse meio, a multiculturalidade no nosso mundo, os amores (paternais, familiares, repentinos, etc), vida e vida após a morte, buracos negros, galáxias, ETs, enfim, é muita coisa em um só livro. As vezes com pouca ênfase e as vezes com muita, dependendo do assunto. Alguns leitores que não curtem tanto ficção científica podem não gostar no geral, por outro lado, os que gostam desse gênero podem gostar muito.
Essa história nos conta mais sobre quem nós somos, aonde estamos e o que queremos do que sobre criaturas verdes e cabeçudas. Ao longo da leitura desse livro, as vezes ele se parece como uma estrela no céu de uma cidade luminosa, parece que lhe falta brilho, mas ao chegar no final do livro, se olharmos com atenção, podemos ver que esse brilho existe, ele está ali ofuscado pela nossa falta de percepção e esperando para ser descoberto.