Mariana 19/01/2019Um Jorge ainda imaturoAdoro os livros do seu Jorge, mas confesso que esse não me desceu não. Jubiabá é um de seus primeiros romances, e reflete um romancista ainda iniciando sua carreira, afinando sua escrita. Gosto da espontaneidade da narração, que parece seguir a linha de raciocínio do protagonista Antonio Balduíno, e sua lógica simples de pensar, todo ele deslumbrado com mulatas e com a ideia de ser herói valente.
No panorama histórico das décadas de 20 e 30, dentre mil outros aspectos, figuram a apresentação da realidade brasileira de forma mais crua e o entendimento do negro como parte de igual relevância na formação cultural e social do Brasil (alô Gilberto Freyre, alô Sérgio Buarque de Holanda). Então ok, Jubiabá tem sua importância histórica.
"No altar católico que estava num canto da sala, Oxóssi era são Jorge; Xangô, são Jerônimo; Omolu, são Roque; e Oxalá, o Senhor do Bonfim que é o mais milagroso dos santos da cidade negra da Bahia de Todos os Santos e do pai-de-santo Jubiabá. É o que tem a festa mais bonita, pois a sua festa é toda como se fosse candomblé ou macumba."
O livro é um dos romances citadinos do Jorge, e se passa em Salvador. Passagens descrevendo a cidade, atrelando sua cultura às belezas da arquitetura e à miséria de seu povo preenchem o livro.
"Cidade religiosa, cidade colonial, cidade negra da Bahia. Igrejas suntuosas bordadas de ouro, casas de azulejos azuis e antigos, sobradões onde a miséria habita, ruas e ladeiras calçadas de pedras, fortes velhos, lugares históricos, e o cais, principalmente o cais, tudo pertence ao negro Antônio Balduíno."
Este é o quinto romance de Jorge Amado que leio, e o primeiro cujo machismo aberto dos personagens principais me incomodou profundamente. Talvez por ter sido também o primeiro cujo protagonista é um homem. Tive que lembrar a mim mesma constantemente que o romance é de 1935. Em dado momento, o protagonista Antônio Balduíno se irrita com sua namorada e o narrador nos faz engolir este trecho:
"Talvez amanhã lhe dê uma surra e a abandone. Porém, hoje não. Ele precisa dela, do seu corpo, da sua quentura."
Longe de mim cometer anacronismos, mas passagens como esta, além da constante descrição de assédios e estupros, tornaram minha leitura pesarosa. Certamente vou migrar de volta para as protagonistas femininas.
Enfim, gosto da falta de pompa de Jorge Amado. Sua simplicidade e marotagem escrachadas o tornaram um dos meus escritores brasileiros favoritos, mas Jubiabá não é um romance que pretendo ler novamente.