Manu 14/12/2022
Dei meu primeiro passo na leitura deste livro no ano de 2020, à época, quando conheci a primeira história dessa coletânea de contos, a história de Aramides Florença, fui tomada por uma dor profunda. Um turbilhão de coisas estava me ocorrendo, e eu recuei. Este ano, em cinco dias, eu li o livro todo. Ou seja, eu não tinha preparo para a densidade das histórias que são narradas no decorrer do livro. De Aramides a Regina Anastácia, Conceição nos traz 13 contos, 13 histórias, 13 vidas que apesar de cada peculiaridade, há um atravessamento de acontecimentos, há repetição de padrões que acometem as mulheres negras. Muitas delas violentadas física, verbal ou sexualmente; abandonadas; traídas; humilhadas; entregue a própria sorte: elas por elas, e muitas vezes, pela sua prole. Esse é o terceiro livro da autora que leio, Olhos D'água foi o primeiro e nele, era impossível não verter lágrimas. Eu diria que neste também, é impossível você não se colocar no lugar de Aramides, Natália, Shirley, Adélia, Maria, Isaltina, Mary, Moraes, Líbia, Lia, Rose, Sara e Regina.
As insubmissas lágrimas destas mulheres podem representar muitas outras que não conhecemos, talvwz a autora dissesse "qualquer semelhança com a realidade, é mera coincidência " ou não! Nestes contos, Conceição ouviu cada história e fez dela ficção, inventando-as à medida que ouvia. Por vezes foi questionada do porque ouvir as histórias, ela prontamente dizia que gostava de ouvir, mas também de inventar, mesmo porque, nenhuma história é contada fielmente à realidade, mas gostamos de saber. Neste livro, você conhecerá 13 histórias que podem lhe doer profundamente, mas pode lhe dar um senso de realidade. Infelizmente, às mulheres negras é negado afeto, condições mínimas de saúde, segurança, alimentação, lazer, de vida. E por mais que as lágrimas caiam, pois não são fortes o tempo todo, essas mulheres continuam resistindo.