Natty Ambrósio 12/12/2011
O Sex and The City dos anos 1950
O cenário
Holly Golightly foi eternizada em 1961 por Audrey Hepburn, no filme Bonequinha de Luxo baseado na novela, de mesmo nome, escrita por Truman Capote. O livro foi publicado originalmente em 1958. Brackfast at Tiffany´s (título original) tem a Nova York dos anos 50´como cenário. A personagem principal é tão encantadora que é difícil lembrar que sua história se passa no período entre guerras.
O passado
Stra. Hollyday Golightly nem sempre teve este nome. Antes de ser a sofisticada e moderna garota que “nunca tirava os óculos escuros, estava sempre arrumada, havia um bom gosto coerente na simplicidade das roupas, nos azuis e cinzas e na falta de brilhos, que faziam que ela mesma resplandecesse”, Holly já foi Lulamae; uma menina órfã que só tinha ao irmão, Fred, no mundo. Casou-se aos 14 anos com Doc Golightly, o homem que além de um sobrenome, lhe deu amor e todo o conforto que se podia ter morando na roça. Infelizmente pra Doc, isso não foi o suficiente para mantê-la ao seu lado. Foi então que Lulamae fugiu de casa e trocou de nome, de cidade e de vida.
O olhar
A história de Holly depois que chega a Nova York é narrada por um jovem escritor fracassado, George Peppard e visivelmente apaixonado por Holly. Apaixonado por sua beleza, espontaneidade e seu jeito sonhador. Talvez tenha sido assim, através de um narrador masculino, que Capote tenha chegado à perfeição de descrever uma mulher aos olhos de um homem conseguindo escapar dos clichês e mesmo se tratando de uma prostituta de luxo, não se referir a ela com vulgaridade.
A cidade
Chegando a Nova York de bolsos vazios, mas de coração aberto, Holly tem um relacionamento mais intenso com a cidade do que com as personagens que nela moram. O seu mais intenso e sonhador relacionamento é com a joalheria Tiffany´s, e é essa relação que dá à obra o título original (Breackfast at Tiffany´s).
“Mas descobri que o melhor para mim é pegar um táxi e ir até a Tiffany´s. Eu me acalmo na hora com aquele silêncio e aquele orgulho no ar; nada de muito ruim poderia acontecer ali, não com tantos homens gentis de terno elegante e aquele cheiro de prata e carteira de crocodilo.” E assim Holly descreve sua verdadeira paixão. Mesmo com as idas e vindas de homens poderosos na sua vida, chego à conclusão de que a única paixão que Holly teve, foi mesmo a Tiffany´s.
“Eu amo Nova York, mesmo que não seja minha como alguma outra coisa ainda há de ser, uma árvore, uma rua, uma casa, alguma coisa, seja o que for, mas que seja minha porque sou dela.” E assim Holly declara seu amor por Nova York.
O apartamento
Holly era uma mulher independente e desapegada das pessoas e das coisas. Prova do seu desapego era seu apartamento desprovido de móveis, onde se encontrava umas malas por ali, outra pilha de coisas aqui, alguns caixotes pelo chão que hora serviam de banco, ora de criado mudo. Como se estivesse sempre pronta para em 5min juntar todos os seus pertences e cair no mundo. Dessa forma seu apartamento conseguia refletir suas reais ambições.
A Holly
Mas seu desapego com as coisas não chegavam a deixar Holly se descomprometer com a aparência. Sempre de óculos escuros, pérolas no pescoço e vestidos de cortes simples e sofisticados, Holly ostentava o luxo e a luxuria dignos de uma verdadeira bonequinha (playdoll) de luxo, na cidade de Nova York.
Como pessoa boêmia e mundana que era, Holly nunca deixou de ter seus vícios e mesmo tida como devassa pela sociedade, sempre expressava seus valores morais, e o principal deles era a sua fidelidade às poucas amizades que tinha. Mas Holly sabia que sua jornada pelo mundo era solitária, e por isso não permitia nem que as pessoas tidas por ela como amigos chegassem muito perto de sua privacidade; talvez por que soubesse que um dia teria que abandonar essas pessoas, e não quisesse fazê-las sofrer.
É impressionante a maneira como todas as personagens giram em torno de Holly, que consegue ser ingênua e calculista ao mesmo tempo, e nos faz questionar por que aquelas pessoas são aficionadas por ela, mas isso por apenas alguns segundos, e logo também ficamos apaixonados novamente pela esperteza de Holly e o jeito fascinantemente “nobre” com que ela leva a vida, pois até para uma prostituta é preciso ter nobreza no coração. “você não pode transar com o sujeito e passar a mão na grana e nem tentar acreditar que o ama”.
Holly tem várias qualidades que deveriam fazer com que não gostássemos dela, mas a boneca sabe nos cativar em pequenas passagens do livro como esta: “É paçante, mas a verdade é que as coisas boas só acontecem se a gente for uma boa pessoa. Boa, não, honesta é melhor. Não honesta no que diz respeito à lei, mas honesta consigo mesma.”
Mulher Moderna
Holly é o retrato da mulher moderna, já na década de 1950. Sua independência te deu o direito de sair para conquistar o mundo, explorar sua beleza e charme e também fazer uma graninha rápida com elas; e fazer tudo isso, sem perder a pose. Afinal, Holly é uma personagem eternizada e musa inspiradora de várias mulheres por gerações, isso, sendo uma prostituta.
Truman Capote
Pode ser muita ignorância minha, mas antes de comprar o livro, jamais imaginei que Bonequinha de Luxo tivesse sido escrito por Truman Capote. Conhecia Capote por outros trabalhos. “A Sangue Frio” talvez sua principal obra pro mundo e pra mim. Afinal, o livro que também foi transformado em filme é um clássico para jornalistas. Tento NADA haver com Bonequinha de Luxo, A Sangue Frio é um livro reportagem, que rapidamente falando capote começa a escrever sobre um assassinato de uma família em uma cidadezinha e essa reportagem passa a ser o prórpio livro. No filme, truman se envolve tanto com o assassino e com a história que isso passar a fazer parte de um drama na sua vida, e talvez ele influencie para dar um fim “precipitado” na história para tirar esse drama da sua vida. Capote também é famoso por seus contos, que entre uma e outra exceção são igualmente bem narrados e envolventes como Bonequinha de luxo.
Por: Natália Ambrósio