Marcelo Caniato 06/06/2022
Esse é o terceiro livro que leio do Raphael Montes. Já tinha lido O Vilarejo e Dias Perfeitos, e gostei muito de ambos, o que me fez ficar bastante interessado por Suicidas, além de já ter ouvido várias vezes dizerem que esse é o melhor livro dele. Bom, eu achei uma merda (o que foi uma surpresa pra mim). Vou escrever algumas coisas mais gerais e no final colocarei uma seção de spoilers devidamente identificada. Mas eu recomendo ler a seção de spoilers também, afinal meu objetivo aqui é te poupar de gastar seu tempo no futuro kk.
Achei os personagens todos muito estereotipados e com diálogos totalmente artificiais. Tem o filhinho playboy do casal milionário, que ostenta a riqueza e odeia pobre igual em novela. Em um dado momento, o papai endinheirado conta um caso em que ele ri de como humilhou uma pessoa usando a famosa frase "você sabe com quem está falando?". Sério, Raphael? Que original hein? Tem também os policiais corruptos que aceitam propina e os detetives que se dizem honestos e acham que bandido bom é bandido morto. Tem o rapaz que é homossexual e não se aceita, e o outro que é homofóbico. Tem até um personagem que aparece por apenas DUAS páginas e é "descoberto" como pedófilo pelo narrador, com um argumento sustentado por conveniências do enredo. E essa descoberta tem alguma importância pra história central? Não, isso tá lá só pro autor dizer "olha aí o cidadão de bem hipócrita". E com isso o autor vai aproveitando pra salpicar a história com pequenas discussões aleatórias que a gente vê todo dia nas redes sociais.
Os capítulos com as mães são um porre. Em primeiro lugar, o formato de transcrição de áudio não ficou interessante. Todas aquelas "pausa", "silêncio - três segundos", "farfalhar de papeis" só servem pra cansar o leitor. Além disso, as discussões das mães são enjoativas, giram em torno do mesmo lugar o livro inteiro, com a delegada o tempo todo falando "por favor, senhoras, não briguem", não acrescentando praticamente nada à história. Também não dá pra diferenciar uma da outra. Tirando a Olivia, que foi escolhida pra ser a chata-mor, todas as outras mães parecem a mesma personagem com nomes diferentes.
Há também várias coisas sem sentido ou forçadas. As descrições das mortes são muitas vezes absurdas. Alguém leva um tiro na cabeça e o autor diz que havia apenas uma massa de sangue e miolos no lugar da cabeça. O que é isso? Resident Evil? Desde quando um revólver 38 faz um estrago desses? Há também um caso de sabotagem de freios em que os freios sabotados funcionam perfeitamente até o momento exato em que eles precisam falhar rsrs.
[SPOILERS DO FIM ABAIXO]
Por fim, a motivação dos personagens! O rapaz decide cometer os crimes para publicar um livro? E a mãe decide ajudar o filho por amor a ele??? Por favor, me ajuda aí né? Imagina a cena: meu filho, eu te amo, por isso vou te ajudar a matar meu casal de melhores amigos e 8 adolescentes num porão pra você escrever um livro e ser famoso. E aí o livro ainda termina com duas cartas entre mãe e filho em que ele (novamente, convenientemente) conta pra ela como ele executou todo o crime, provando que tudo aquilo não fazia o menor sentido e só podia funcionar mesmo com a mão do autor guiando os acontecimentos.