Vitoria.Milliole 04/06/2024
Eu já li Jantar Secreto, que achei maravilhoso e me deixou receosa quanto aos outros livros do Raphael. Não tinham como ser melhores do que aquele, tinham? Pois imagine a minha surpresa ao ver que um anterior a ele, o primeiro livro do autor, é muito melhor. Eu tô de boca aberta até agora!
Um grupo de jovens decide fazer uma roleta russa um tanto... diferenciada. A cada rodada, um deles morre. Um suicídio coletivo disfarçado de jogo. E agora, oito mães enlutadas precisam estar presentes numa reunião com a delegada responsável pelo caso para a leitura de alguns textos que podem esclarecer os fatos daquela fatídica noite. Só que nada é tão simples como parece.
A narrativa é dividida em três: anotações do Alessandro, seu livro escrito em tempo real narrando cada uma das mortes e desdobramentos da roleta russa e a gravação da reunião com a delegada, onde ela lê esses textos.
Compondo nosso time de personagens, temos dois principais: o Zak e o Alessandro. Zak é o típico menino mimado, filho de dois ricaços que tem a cidade inteira na palma da mão. O Alê é seu melhor amigo, um cara mais humilde, escritor que sonha em um dia ser publicado. Além deles, conhecemos um grupinho de desmiolados, como um gótico trevoso com tendências suicidas, sua irmã movida a dinheiro e daí pra pior. Tá, nenhum deles parece muito certo das ideias, mas ainda assim, um suicídio coletivo parece extremo para todos eles. E é isso que mantém nossa curiosidade aguçada. O que os levou até ali?
A narrativa, é claro, é pensada para chocar. Afinal, o Alê tá escrevendo um livro sobre aquilo ali. Ele narra cada morte em tempo real, e é evidente que não é um simples tiro na própria cabeça que mata cada um e tudo termina em alguns minutos, né? Ou não teríamos livro. Detalhes sórdidos são contados, e ai de quem não está preparado.
Não vou me prolongar nos detalhes da história. O choque eu deixo pra quem ler o livro. Mas que o Raphael Montes foi genial nisso aqui, não tem nem discussão. Eu nem preciso dizer os tantos debates que ele traz, né? Típico dele. Em dois livros dele lidos por mim eu já posso afirmar que essa é a marca registrada desse cara: fazer a gente refletir quinhentos temas sociais a partir de uma história muito da macabra.
Em um único livro, entraram em pauta suicídio e saúde mental, sexualidade e preconceitos e até mesmo o que moveu toda a narrativa: a desvalorização da literatura e a busca por sucesso. A cereja do bolo, inclusive, é a última linha do livro, quando o Raphael se insere na história como pseudônimo do seu próprio personagem. Que mente macabra! Que mente brilhante! Eu amo esse cara, caras! E é só a minha segunda leitura...