Illana2 19/03/2022
A elegância do ouriço é um monet
Talvez o erro tenha sido meu, que criei muitas expectativas em cima do livro... E a decepção subsequente veio à galopes ferocíssimos!
A verdade é que A elegância do ouriço é um livro Monet: de longe, chama a atenção, atiça a curiosidade e parece conter uma beleza exuberante em seu cerne.
A frustração vem, quando, cada vez mais próximo, você se depara com borrões e pinceladas disformes que destoam completamente da beleza que você enamorara antes...
Não me entenda mal, o livro contém alguns bons momentos filosóficos, algumas risadas e bons momentos.
Mas eu esperava BEM mais. Esperava algo mais profundo, com personagens mais profundos, e não esses personagens medíocres que encontrei.
Li a elegância do ouriço rezando para que eu estivesse errada. Mas não.
A elegância do ouriço é uma narrativa europeia semi-barata que tenta se esgueirar por uma filosofia que eu chamo de esquina (o tempo inteiro tentando se desaproximar disso, trazendo filosofia clássica para o texto como se, por si só, fosse fazer algo, mas vou te explicar melhor mais à frente).Não é que os personagens não são aprofundados, nem que sejam de todo chatos, eles são apenas europeus. Europeus chatos, de costumes chatos e pensamentos risiveis.
Particularmente, tudo que toca ao pensamento europeu e às suas "labutas", me são chatos.
Pretensiosos e antiquados. E o mais engraçado de se constatar é que, àqueles que mais querem fugir disso, dessa falha cultural dantesca, são justamente os mais orgulhosos, altivos e enfadonhos.
E, basicamente, todos os personagens do livro são, exatamente, esse tipo de europeu. Àquele que nega sua cultura, suas falhas e se acham ainda mais inteligentes do que àqueles à sua volta.
Ou seja, um típico europeu.
A narrativa trata muito de classe. E como a classe social de alguém pode ser uma marra para ela. Tanto da alta classe, quanto da baixa.
Mas, principalmente, sobre uma cultura europeia supérflua e descartável, sem vida e sem sentido. Sem objetivo. Carente. Vazia.
E todos os personagens da história se opõem, em algum nível, à esse conjunto social. Geralmente, pela "inteligência" (lendo livros "clássicos", vendo filmes bem longe do espectro Marvel, etc).
Mas todos, TODOS, acreditam que eles são os detentores de uma sabedoria única, ímpar. Que eles reparam a real beleza para além dessa cultura supérflua.
Coitados.
Eles são simplesmente um produto da mesma cultura que eles odeiam. Só que invés de se acharem incríveis pelo poder de compra, acham por acreditarem entender o mundo muito mais que os outros ao seu redor.
Ao invés de se darem conta de sua pequitude diante da amplitude da vida, de suas leituras os levarem a descerem de seus pedestais morais, não, os levam para o mesmo lugar.
Por isso digo que é uma filosofia de "esquina". Tem em si uma proposta filosófica, mas é tão mal elaborada, que quanto mais fundo se chega (quanto mais perto se olha), mais parecem disparates que quando mostram qualquer cintilar de originalidade e brio, parecem ter sido efeito da sorte.
Enfim, para mim foi um Monet. Europeus me são enfadonhos e ojerizantes. Para lutar contra essa cultura, primeiro, eles precisam descer de seu pedestal fantasioso.
Mas tenho total ciência de que o livro é bem escrito o suficiente para agradar leitores que não tem o mesmo posicionamento que eu.
Além disso, não sou tão irredutível e monstruosa ao ponto de negar que o livro tenha muitos pontos positivos e que valha a pena ser lido.
Apenas só não é tão belo para mim, quanto possa ser para você.
Mas também, eu prefiro Caravaggio!