A elegância do ouriço

A elegância do ouriço Muriel Barbery




Resenhas - A Elegância do Ouriço


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Ladyce 15/02/2010

Homenagem a René Magritte?
Acabo de ler A Elegância do Ouriço de Muriel Barbery, escritora francesa, que encanta com um texto divertido e irônico. A história se passa num elegante bairro de Paris e é narrada por duas personagens diferentes: conhecemos Paloma, uma adolescente esperta, que percebe mais do mundo à sua volta do que deixa transparecer, principalmente em relação à sua família, aos seus amigos e à sociedade em geral; e Renée, zeladora do edifício onde Paloma mora, leitora inveterada, bastante mordaz, que tem sempre uma resposta pronta para qualquer ocasião, que também percebe à sua volta muito mais do que os moradores do edifício lhe dão crédito. É através dos olhos delas que somos apresentados a uma gama de moradores do prédio, parisienses com suas maneiras de viver, congeladas por séculos de civilização. Vemos também o quanto têm em comum estas duas personalidades que se revelam através da narrativa.

A história se passa quase inteiramente no edifício à Rua de Grenelle, 7, onde ambas residem. Paloma e Renée passam a vida preocupadas em apagar os traços de suas existências e têm bastante sucesso em se tornarem quase invisíveis aos outros, apesar de terem vidas interiores muito ricas e de quase não perderem nada do que acontece ao seu redor, principalmente quanto às intenções das pessoas que conhecem e seus preconceitos. Elas se protegem contra qualquer indiscrição, contra qualquer comportamento, que possa levá-las a serem descobertas, que possa revelá-las como as pessoas sensíveis que são, inteligentes, cultas e mordazes na caracterização dos habitantes do edifício e da sociedade francesa em geral.

Os capítulos do livro, com as impressões de cada uma, são intercalados e assim sabemos de seus pensamentos mais íntimos. Eles nos orientam na narrativa. Visualmente o livro também é dividido. Cada narradora tem seu texto em tipografia diferente, facilitando o reconhecimento das diferentes vozes narrativas. Paloma e Renée são ambas pessoas que não se encontram nem se enquadram entre a maioria na sociedade. E lá pelas tantas acabam estabelecendo uma amizade entre elas, atravessando barreiras culturais e sociais estabelecidas há séculos e descobrem que têm muito em comum quando percebem e analisam o mundo à sua volta.

Só são descobertas por um novo residente, um oriental, um japonês, que se muda e passa a viver neste abrigo de alto luxo da burguesia parisiense. Sua chegada ao edifício causa muita curiosidade da parte de seus moradores mais tradicionais. Ele, no entanto, assume que é realmente uma pessoa de fora, apesar de usar precisa e corretamente a língua francesa. Como um estranho no ninho, por assim dizer, como uma pessoa de fora, que não precisa nem saber, nem se limitar às regras sociais estabelecidas, ele consegue estender sua amizade às duas mulheres que conhecemos, compreendendo-as e deixando suas personalidades florescerem.

O livro é cheio de observações de muito humor sobre a vida moderna; divertidas descrições do que é esperado no comportamento de cada um e irônicas coincidências que geram preciosas observações sobre literatura, escrita, envelhecimento, psicanálise, e muitos outros aspectos do dia a dia atual. Tudo isto vem bem empacotado numa maravilhosa escolha de vocabulário, contrastes irônicos e num tom jocoso, sem igual. Eu me achei não só sorrindo, mas em algumas ocasiões rindo comigo mesma, para espanto de qualquer pessoa próxima, com as divertidas observações de Paloma e Renée. E se você é uma dessas pessoas, como eu, que gosta de marcar uma passagem particularmente irônica, ou que seleciona uma frase espetacular, que sublinha seu livro a lápis, para poder voltar mais tarde e encontrar um trecho específico, será melhor ter uma apontador próximo e um lápis ao alcance da mão, porque você acabará se resignando a um livro cheio de anotações e de marcas de colchetes e parênteses.

Muitas vezes, durante a leitura deste livro, eu me encontrei pensando nos quadros do pintor belga René Magritte. As observações de Paloma e Renée são tão bem colocadas que se parecem com a superimposição de imagens característica dos trabalhos de maior humor e ironia do pintor. É só nos lembrarmos de um de seus quadros [ele fez muitas versões do mesmo] mais conhecidos: Ceci n’est pás une pipe, [Isto não é um cachimbo] para entendermos como trabalha o humor presente neste livro de Muriel Barbery. Magritte, assim com Renée e Paloma, está sempre brincando com o significado das palavras ou com o significado das imagens, colocando-as juntas e nos obrigando, frequentemente, a pensar visualmente por causa de suas justaposições.

E me pergunto se a autora não teria homenageado o pintor já que uma das personagens principais se chama Renée, a forma feminina do primeiro nome de Magritte. Tão jocoso quanto os nomes que a autora escolheu para as duas irmãs, moradoras do prédio, Paloma e Colombe, que têm como seus primeiros nomes duas palavras com o mesmo significado: pomba, em línguas diferentes. Esta possibilidade ainda se torna mais crível quando nos lembramos de que a autora é professora de filosofia e certamente estaria familiarizada com os trocadilhos visuais que Magritte se empenhou em aprimorar. No final do século XX, os quadros deste pintor ilustraram muito conceitos de filosofia e lingüística. Tenho certeza que na próxima vez que vier a ler este livro ainda serei capaz de encontrar mais “coincidências” interessantes que me escaparam na primeira leitura.

Leio muito. E faz algum tempo que não encontro um livro que me deixasse tão encantada, tão absorvida. Recomendo com muitas estrelas. É definitivamente um livro para quem gosta de livros e de idéias.











08/07/2008
Dani 03/06/2016minha estante
Belíssima resenha, Ladyce! Terminei o livro ontem e me peguei chorando copiosamente. Confesso que o final atendeu às minhas expectativas, mas ao mesmo tempo foi muito surpreendente. Assim é a vida, uma caixinha de surpresas.
Tive que me preparar para a despedida, porque os personagens se tornam amigos e é difícil dizer adeus.
Como vou sentir saudade...


Hester1 21/04/2020minha estante
Excelente resenha. Acabo de ler o livro e não conseguiria fazer algo tão preciso.


Monique 01/12/2020minha estante
Um dos meus favoritos da vida!


Carla 06/01/2021minha estante
Livro encantador, envolvente. Um dos melhores livros que li nos últimos tempos sem duvida


Berna Lara 16/04/2023minha estante
Parabéns. Muito boa resenha. Só faltou falar de tantos escritores, filmes, ideias, jogos, etc que são mencionados. Vejo o livro além das personagens. Um livro para ler, anotar, pesquisar, aprender sobre muitos assuntos interessantes. Um livro para ler vagarosamente, parando e abrindo aspas para outros conhecimentos.


Berna Lara 16/04/2023minha estante
Acabei de ler! Com pena de acabar. Me apeguei. Queria ler para sempre! Adorei.
A estória é interessante mas todo o suporte e referências dadas são, a meu ver, ?a grande surpresa? ??




Bookster Pedro Pacifico 01/03/2020

A elegância do ouriço, Muriel Barbery - Nota 9/10
Um romance filosófico extremamente inteligente e carregado de ironia. Ambientado em um edifício luxuoso de Paris, localizado na Rue de Grenelle, 7, a história tem como personagens principais duas moradoras desse edifício: Renée Magritte, a zeladora, e Paloma, uma garota de 12 anos. Renée é uma senhora discreta, ranzinza e muito reservada, mas que esconde dos demais moradores um conhecimento muito vasto do mundo da literatura, música e artes. Já Paloma, diante das dificuldade de se encaixar em sua típica família da alta sociedade, toma uma séria decisão em sua vida: no seu próxima aniversário, a menina irá se suicidar e incendiar seu apartamento. Apesar de suas diferenças, Renée e Paloma acabam encontrando muito de uma na outra e passam a compartilhar suas opiniões e críticas a essa sociedade desvirtuada. É uma história nada comum, mas que, carregada de um humor ácido, traz críticas aos esteriótipos e rótulos empregados de forma tão automática por cada um de nós. E é justamente essa ideia que está contida no título do livro: qual pode ser a elegância em um bicho cheio de espinhos, que se defende o tempo todo e não mostra o seu interior? Ao longo do livro a autora também traz diversas referências a obras musicais, literárias e filosóficas, o que acaba enriquecendo e deixando a leitura ainda mais interessante.

site: https://www.instagram.com/book.ster
Fausto.Mota 04/02/2024minha estante
Broto não leu essa resenha,né? Já coloquei na Lista.




Lista de Livros 23/12/2013

Lista de Livros: A elegância do ouriço, de Muriel Barbery
“No universo tudo é compensação. Quem vai mais devagar empurra com mais força.”
*
“Prosseguimos com a definição da inteligência, e ele me perguntou se podia anotar no seu caderninho a minha fórmula: ‘Não é um dom sagrado, é a única arma dos primatas’.”
*
“Mas quem caça a eternidade recolhe a solidão.”
*
Mais em:

site: https://listadelivros-doney.blogspot.com.br/2010/12/elegancia-do-ourico-muriel-barbey.html
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Roberta 09/10/2022

A concierge
Essa é uma releitura. Na primeira vez não gostei. Dessa vez achei muito bom.
A história me cativou e foi bom acompanhar os personagens.
Indico?
Pedro 09/10/2022minha estante
Uma mesma pessoa não entra no mesmo rio duas vezes.
Gostaria de reler alguns livros que eu já li, mas a lista de livros que ainda não li é quase infinita.




Claire Scorzi 23/08/2009

Do Medo da Felicidade - na vida e nos livros
Confesso que me empolguei no começo da leitura desse romance. Confesso que, passando da página 200, fui encontrando uns clichês chatinhos - os ricos e os pobres (ah, as novelas da Globo não são as únicas), aquela atitude estilo "Sou socialista mas vejo os defeitos da esquerda" (Pepetela também a exibe em "Mayombe"), a revolta atéia de tom um tanto imaturo (porque a autora não a atribui só à menina de 12 anos, mas também à concierge de 54, e os argumentos soam tão adolescentes quanto) - enfim... Mas, hoje cedo, até a página 270 mais ou menos, ainda julgava estar diante de um grande livro contemporâneo, apesar daqueles senões.

Mas depois disso, temos: explicações do passado da concierge em tom melodramático e banal (os ricos e os pobres, again!), e ainda - chega-se à página 306... E aí - não dá! Despencou tudo. A autora não soube finalizar seu livro sem recorrer ao clichê que já é conhecido por leitores que leram muito: "quando as coisas melhorarem para os protagonistas, e tudo ameaçar um final feliz, mate um deles". Eu já li isto: em "Relações Exteriores" de Alison Lurie, em "Contraponto" de Aldous Huxley, em tantos outros que nem lembro agora; até o vi em filmes.

A filosofia por trás disso parece ser: um final feliz é subliteratura com certeza; e um autor que concede em escrevê-los (mesmo quando seria o natural pelo rumo dos acontecimentos da história, como é o caso de A Elegância do Ouriço) corre o risco de ser execrado pela crítica literária séria. Minha conclusão é que Muriel Barbery cria uma personagem que teme a felicidade em sua vida enquanto ela, autora, tem medo da felicidade nos livros, a tal ponto que sacrifica a coerência da narrativa com um desfecho abrupto, infeliz, para não ser confundida com uma escritora de best-sellers (oh! oh!).

Se o leitor não se importar com essa receita-de-como-escrever-um-romance-que-será-levado-a-sério-pela-crítica, pode ler.
Claudia Furtado 06/12/2010minha estante
Nossa! Você exprimiu exatamente o que senti e pensei ao terminar este livro! Só que fui menos generosa que você...


GCV 13/03/2011minha estante
Interessante você ter comentado essa aspecto do happy end. Achei o livro todo uma grande defesa dos 'altos valores' de uma 'alta cultura' - ora francesa, ora japonesa -, e a autora parece não querer ceder ao 'gosto popular' de um best-seller. Um happy end poderia ser uma conciliação entre bárbaros e cultos, e, já que isso é impossível, os cultos devem sucumbir no fim à barbárie.


Claudia 05/04/2012minha estante
Também concordo. A autora não soube como terminar o livro. E eu achei o mesmo com relação ao badaladíssimo "A visita cruel do tempo".


Carol 18/09/2015minha estante
Tive a mesmíssima sensação. Final abrupto, apenas para evitar o "happily ever after". Algumas reflexões interessantes ao longo da história, mas no geral, muito clichê.


Hel 18/12/2019minha estante
Foi uma das minhas decepções com esse livro, que poderia ter sido ótimo. Abusou demais de clichês - embora a parte da hipocrisia dos moradores do prédio em relação à concierge seja retratada de modo realista e até engraçado.


July 27/01/2024minha estante
Até o momento, estou na metade do livro e estou tendo a mesma percepção.

Além disso, notei que em diversos momentos a autora quis parecer mais erudita ao utilizar 'palavras difíceis', e acabou fazendo construções ruins e prejudicando a fluidez do texto.


July 27/01/2024minha estante
Inclusive, achei cansativo ler as viagens filosóficas da Renée ao comentar sobre a dissertação de mestrado da Colombe.




Carolina.Gomes 17/08/2022

Elegância do ouriço
Comecei essa leitura com elevadas expectativas e, talvez isso tenha comprometido a minha experiência. Observei, lendo algumas resenhas por ai, que esse livro é quase uma unanimidade.

Todo mundo gostou, mas, como diria minha mãe: eu não sou todo mundo?

O início me pareceu promissor. Gostei de como a autora alternou os capítulos, narrados pelas duas protagonistas principais. Isso conferiu uma dinâmica interessante ao livro. Estava até gostando da história da Zeladora que gostava de ler e tinha um gato chamado Leon em homenagem a Tolstoi.

No decorrer da narrativa, a autora resolveu a introduzir trechos de alguns livros clássicos como Anna Karienina e Guerra e Paz, mas o fez de um jeito que me soou pedante, como se quisesse exibir erudição?

Ok! Ela queria mostrar que a zeladora tinha lido aquelas obras, mas pra que detalhar a cena do livro e explicar os motivos que fizeram o personagem agir daquele modo? Desnecessário!

Trazer à baila uma frase ou fazer referência aos clássicos é um recurso usual e bacana, mas a forma, aqui, não me agradou. Achei forçado!

Na metade da narrativa, a autora insere uns pensamentos filosóficos que parecem excertos de uma monografia ou um trabalho acadêmico chato. Achei cansativo.

Há algumas frases de efeito até interessantes, mas eu já estava desanimada com o rumo da narrativa. E torci para acabar logo. Ainda bem que os capítulos são curtos.

Alguns estereótipos me incomodaram como a adolescente problemática e o sábio oriental. Me pareceu que a autora quis convencer o leitor da supremacia da cultura oriental sobre a ocidental..

Achei que autora generalizou ao descrever os ricos moradores do condomínio como pessoas fúteis e imprestáveis. Todo rico é esnobe, todo pobre é coitado. Sério?!!

Na parte final, o livro deu uma melhorada, mas não o suficiente para mudar minhas impressões sobre ele. Não me emocionou nem me convenceu.

Não vou dizer que é um livro ruim, apenas não foi bom para mim.
Eliza.Beth 17/08/2022minha estante
?????
Adorei a resenha! Já estava convencida, e a resenha só reforçou!


Carolina.Gomes 18/08/2022minha estante
De agora em diante, só insistirei se for clássico. Se n gostar, abandono. Q nada!


Joao 18/08/2022minha estante
Carolina, resenha sensacional hehehe. Os pontos que você elencou são bem parecidos com os meus quando não gosto de uma obra.


Carolina.Gomes 18/08/2022minha estante
Poxa, John! Eu queria muito ter gostado, viu? Eu pontuaria outras coisas, mas fiquei c receio de ser polêmica. ?


Joao 18/08/2022minha estante
Carolina, o polêmico é que é bom hahahahah. Eu te entendo. Têm livros que eu quero muito gostar mas não tem jeito rsrs.




Otávio - @vendavaldelivros 23/03/2022

“Mas e se, no nosso universo, existir a possibilidade de nos tornarmos o que ainda não somos...será que saberei agarrá-la e fazer da minha vida um jardim distinto do de meus pais?”

Uma rua em Paris, um prédio como tantos outros e pessoas comuns como tantas outras. O que de tão extraordinário pode sair de uma história com prerrogativas tão simples? O que de tão diferente faz com que “A elegância do ouriço”, da francesa Muriel Barbery seja tão marcante? Talvez seja exatamente isso, o comum é o extraordinário e cada pessoa, cada história, é um universo em si mesmo.

`Publicado em 2006, “A elegância do ouriço” narra a história de duas personagens principais que vivem no mesmo prédio em Paris: A concierge (algo como uma zeladora) Reneé, uma senhora viúva e que opta por esconder suas qualidades intelectuais dos moradores do prédio e da sociedade em geral, e a menina Paloma, uma jovem superdotada que logo no início diz que irá tirar a própria vida quando completar 13 anos caso não descubra motivos reais e fortes suficientes para continuar vivendo.

Quer dizer, o livro não narra as histórias, quem faz isso são as próprias personagens. Dividido em capítulos alternados, uns narrados por Reneé e outros por Paloma (sendo esses divididos em dois tipos diferentes), são as personagens que montam os cenários e apresentam os demais moradores do prédio, suas histórias, medos e reflexões. E muito da mágica desse livro está aí.

“A elegância do ouriço” é o tipo de livro que abraça e conquista a gente a cada página. O fato de Muriel Barbery ser professora de filosofia torna tudo profundo, mas saboroso, denso, mas leve e divertido. É como se estivéssemos dentro da mente das personagens e, ao mesmo tempo, fôssemos seus amigos, trocando ideias tomando chá, questionando a vida, a sociedade e a existência.

É impossível não se apaixonar pela história e por toda a filosofia que está impregnada em cada página. Não só isso, é impossível não sentir falta das personagens e da história a partir do momento que finalizamos a última página. Se esse livro está na sua estante e você não o leu, faça esse bem a si mesmo. Não adie mais uma experiência literária capaz de tocar e mudar tanto em nós mesmos. De longe, uma das minhas melhores leituras no ano e um livro que vai ficar gravado no meu coração de leitor.
Lívia 24/03/2022minha estante
Realmente, é impossível não se apaixonar pela história!


Otávio - @vendavaldelivros 24/03/2022minha estante
Tenho carinho até hoje pelas personagens.




Kah 04/04/2021

Em absolutamente nenhum momento deste livro fui capaz de imaginar que teria que catar os caquinhos do coração ao fim.
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trizisreading 26/03/2024

A Beleza e o Sentido da Existência de "A Elegância do Ouriço"
"A Elegância do Ouriço", de Muriel Barbery, nos convida a acompanhar as vidas de Renée, a concierge discreta e sábia, e Paloma, a jovem inteligente e sensível, que compartilham seus pensamentos mais íntimos por meio de diários. Ambientado em um prédio de luxo em Paris, o romance nos leva a refletir sobre a busca por sentido em um mundo apressado e superficial. Com uma narrativa rica em detalhes e personagens complexos, Barbery nos presenteia com uma obra que nos convida a refletir sobre solidão, amizade, arte e filosofia, revelando a beleza na imperfeição do mundo ao nosso redor.

Leia a resenha completa no meu instagram literário: @trizisreading
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Márcia Regina 28/09/2009

“A elegância do ouriço”, de Muriel Barbery

Amei os personagens do livro, os principais e os coadjuvantes, mesmo não os considerando muito viáveis como seres reais. E talvez o objetivo seja exatamente este: um jogo de construir e desconstruir estereótipos servindo como caminho para a filosofia que permeia a história, na medida em que ela questiona o quanto somos capazes de ver além do que esperamos ver. Ou seja, a presença maciça de estereótipos usada como instrumento para que percebamos o quanto nós e os que nos cercam podemos ter mundos maiores do que os que nos permitimos enxergar.

E há também outro aspecto nesse ponto: se eu fizer uso de imagens pré-existentes ou o contrário destas (princesa fantasiada de borralheira, sabedoria japonesa, adolescente rebelde contra a família, irmã dondoca, socialistas burgueses...), o que acontece? A imagem já existe, logo, posso concentrar o leitor na idéia, sobra mais tempo e espaço para que as sensações, a filosofia, a emoção se instalem.

Nessa linha, o objetivo seria falar de outra coisa: não de pessoas, mas de momentos que podemos alcançar como pessoas; não da invisibilidade, mas da importância de enxergar; não da história romântica de um casal (que eu adorei, diga-se de passagem), mas do amor; não de uma morte trágica e estereotipada, mas da morte em si, do significado dela.

Renée me seduziu. Fiquei perguntando enquanto lia: o fato de ter optado por tornar-se invisível para um grupo de outras pessoas significa que se anulou? Que tinha medo da vida? Seria mais “completa” se tivesse mostrado sua "superioridade" para os outros? O olhar exterior, o ser visto é o que a faria "ser"?
Penso que não, esse julgar pelo reflexo do outro é um caminho perigoso, pode levar a confundir "sucesso" social (financeiro e de reconhecimento externo) com opção de vida, formas de ser feliz, bem, mal...

Não consigo ler a Renée como uma pessoa triste. A concierge é um dos seres mais completos que já encontrei. E essa completude veio por ela, não pela imagem daqueles com os quais convivia. Ela teve a melhor amiga que qualquer um de nós poderia sonhar, cozinhava o que queria, assistiu os filmes, ouviu as músicas e leu os livros que quis, teve uma liberdade que o "sucesso", como o vemos, não teria viabilizado.

O que ela seria se tivesse seguido uma vida diferente? A irmã mais velha de Paloma? O professor da irmã mais velha? Teria casado com um cara estilo os demais moradores do prédio? Teria dinheiro para comprar os livros que retirava da biblioteca? Teria em casa os quadros e obras de arte que via em museus? De que forma essa diferença teria atuado na vida dela?

Sabem o que é mais complicado? Eu faço várias leituras, especialmente duas, dependendo do meu momento (que nada tem a ver com o livro). Às vezes, penso que ela se enclausurou e serviu de alerta para a adolescente não fazer o mesmo. Outras, que ela foi completa por ser assim e permitiu à adolescente se aceitar e perceber o ser assim como um caminho viável.

Mas também me incomoda quando me vejo lendo o livro como se a vida fosse algo com início meio e fim. Não é. A vida é um momento. Sublime, concordo, mas um momento. Não tenho controle sobre ele. Posso escolher a forma como quero ir vivendo, mas não até quando.

E por que sempre esperamos que o final dê a cada personagem o que merece? Não estamos querendo ser um pouco "donos da verdade" nisso? Afinal, a vida não está muito para o justo/injusto/certo/errado. Ela acontece. E vamos passando por situações e nos posicionando frente a elas. Às vezes bem, às vezes mal. E um dia morremos. Pronto!

Para finalizar, “A elegância do ouriço” me levou a ler “As Irmãs Makioka”. E só isso já vale o livro.
Teca Dabul 05/10/2009minha estante
Márcia, sua resenha é ótima, sua percepção profunda. Foi um prazer ler algo tão bom a respeito de um livro que troxe reflexão e crescimento. Boas leituras! Teca


Márcio M. 04/10/2011minha estante
Adoro o filme e ainda não li o livro. Excelente a resenha, uma das melhores que li no Skoob. Me emocionou.


Mariana. 22/06/2012minha estante
Adorei a resenha, Márcia, mas gostei ainda mais das reflexões a que o livro te levou. Certamente um livro para (re)pensar muitas coisas.




Jardim de histórias 28/02/2023

Um livro de percepções, desconstrução e reconstrução!
Estar vivo talvez seja isto: espreitar os instantes que morrem.

Quando os pássaros que escolhem não ter asas resolvem se atirar no abismo. Quando a verdadeira filosofia do ato de viver, se projeta sem pontificações, nos inspirando a um olhar profundo para nosso interior. O que parece uma introdução Kantiana, é, na verdade, essa obra sensível em meio a robustez do tema, cuja tem como aspecto o existencialismo. O quão grandioso é um diálogo mental em meio a introspecção resultante em reflexos de uma vida que percebemos inexistente. Por um lado, você tem uma narrativa por um olhar maduro, que optou pelo véu da invisibilidade, camuflando-se com estereótipos, tanto com a conformidade proveniente da zona de conforto, quanto a sensação gerada pela armadura que proporciona o devido bloqueio, tornando-a inacessível as percepções. Por outro lado, a narrativa de uma jovem repleta de ideias e sensações, capazes de fazer se perder nela mesma e ao se encontrar perceber a incompatibilidade de um mundo ilusório. Durante esse ensaio de percepções, a narradora Renée a Concierge que vive sua quarentena moral, nos abastece saborosamente com o seu discurso crítico, porém, consciente, sobre os efeitos, não às causas e sim efeitos, dos choques culturais e os abismos sociais, com uma crítica muito autêntica sobre os aspectos da burguesia em relação ao povo. Devido ao estado de inflamabilidade potencializado pela cláusula ideológica e a introspecção, o teor de suas críticas, despidas da ira, são um bálsamo intelectualizado da consciência analítica. Agora, por outro lado, também referir-se a aristocracia, e diga de passagem, nunca li uma crítica a hipocrisia da aristocracia tão sagaz, quanto a da jovem Paloma Josse, a segunda narradora. Um olhar profundo, que em tese, não deveria ter essa imersão, devido ao que entendemos de maturidade em desenvolvimento, porém, mesmo através deste olhar jovial e sensível, carrega a visceralidade do julgo, que a todo momento faz críticas mentais sobre aspectos cotidianos e sociais, tomando como exemplo o quão banal e superficial é o comportamento de sua família aristocrata e de alguns vizinhos. Essas duas narrativas, precisavam de um catalisador, ou seja, um ponto de apoio, que trouxesse um equilíbrio para a história, que olhasse para essas duas narradoras e enxergasse além, sem um olhar para si mesmo no outro. Esse ponto de apoio é o personagem, chamado Kakuro Ozu! O maravilhoso Sr. OZU. Um senhor metódico, simpático e muito humano, que se conectou perfeitamente no contexto. Primeiro, é importante contextualizar a história. Tudo, embora gire em torno do edifício nobre onde residem, trazendo às impressões de uma "escatologia "moral e social visto metaforicamente dos aspectos construídos de ideias que os narradores, também moradores deste local, criam dos vizinhos, mas que, filosoficamente, tem muito de nossas próprias impressões. O livro, nos apresenta várias impressões interessantes e subjetivas, é importante salientar isso, pois, nem todos terão a mesma percepção. O que eu posso dizer e digo, que a forma filosófica que Muriel Barbery utilizou para contar essa história, sob olhar em meio aos conflitos individuais, foi simplesmente estupenda. Um livro para ler, reler, estudá-lo e principalmente deliciar-se. Como ponto de melhoria, sugiro uma revisão na tradução. Existem algumas palavras ou termos, embora não atrapalhe muito na condução da história, mas estão diferentes do francês, como se fosse feita uma tradução literalmente sem olhar para o contexto ou outro significado. Lembrando que são bem pequenos problemas, não comprometendo a história fascinante.
Jardim de histórias 28/02/2023minha estante
O livro nos conta, já a desconstrução é conforme nossa percepção!

E vocês o que acharam?


Vanessa.Castilhos 28/02/2023minha estante
Interessantíssimo! Fiquei com vontade de ler e mergulhar nessas personalidades!


Jardim de histórias 28/02/2023minha estante
Vanessa, ainda estou impactado pela leitura! Que livro! Leia e me conte suas impressões.




Biblioteca Álvaro Guerra 09/03/2022

Uma crítica a sociedade e um convite ao pensamento, mas em tom humorado, filosófico e repleto de belíssimas palavras. Como diz a própria quarta capa, o livro nos leva a refletir que nenhuma vida vivida a fundo deveria evitar: o tempo e a eternidade, a justiça e a beleza, a arte e o amor.

Livro disponível para empréstimo nas Bibliotecas Municipais de São Paulo. Basta reservar! De graça!


site: http://bibliotecacircula.prefeitura.sp.gov.br/pesquisa/isbn/9788535911770
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Francisco.Tambani 05/01/2023

?Nunca vemos além de nossas certezas e, mais grave ainda, renunciamos ao encontro, apenas encontramos a nós mesmos sem nos reconhecer nesses espelhos permanentes. Se nos déssemos conta, se tomássemos consciência do fato de que sempre olhamos apenas para nós mesmos no outro, que estamos sozinhos no deserto, enlouqueceríamos.?
João Vitor 05/01/2023minha estante
É bom mesmo?




DIRCE 14/12/2009

Xepa
“É só estender a mão e colher o livro
como um fruto maduro que lentamente degusto
e, milagrosamente,
permanece inteiro, íntegro, intacto
entre folhas e flores
e surpreendentemente se renova e multiplica
em inusitados sabores.”

Escolhi esses versos de J.G. Araújo Jorge para colocar no meu mural porque eles refletem exatamente como me sinto toda fez quem um novo livro passa a integrar minha Estante.
Depois de ter-me “lambuzado” com os deliciosos Pássaros Feridos e Faz me falta,durante a leitura do livro A elegância do Ouriço, eu me senti como uma xepa que colheu um fruto bem ruinzinho num final e feira.
Não resta dúvida que a intenção da autora foi boa: a de levar o leitor a uma reflexão sobre o mundo contemporâneo, porém, a maneira como ela o fez foi bem indigesta. Pra mim, tudo o que ela conseguiu foi apequenar os seres humanos ainda mais. As pessoas são rotuladas a todo instante: pessoas bonitas e ricas não podem ser inteligentes e boas – somente os pobres e feios são agraciados com essas qualidades. Em suma, não gostei, e assim sendo, das duas uma: ou eu tenho sério problema, ou o livro é bem “podrinho” mesmo.
Mag 11/07/2010minha estante
É dirce!Eu tmb não gostei...Achei que o conteúdo do diário da garota de apenas 13 anos está muito além do que alguem nessa idade pode entender da vida...Não falo de inteligência não mas só se chega a certas conclusões contidas ali através de experiência de vida...Resumindo, achei o livro um SACO!


DIRCE 13/07/2010minha estante
Oi Mag!
Sua opinião me serviu de consolo haja vista que pessoas, com os as quais tenho compatibilidade literária, disseram ter gostado muito desse livro.
Eu achei qua a abordagem foi feita de forma muito intolerante, enfim, sei lá...


Silvana (@delivroemlivro) 04/08/2010minha estante
Não ter gostado de uma obra como "A Elegância do Ouriço" me choca na mesma medida quando, (muito raramente), ouço alguém dizer que não gosta de chocolate...ou de sexo.


DIRCE 04/08/2010minha estante
Oi Silvana!
Pode estar certa que reconhecer publicamente não ter gostado de um livro, que é aclamado quase por unanimidade neste site, inclusive, por leitoras que tenho afinidade e respeito, não é uma tarefa nada fácil.Deve ser tão difícil como admitir não gostar de sexo ou chocolate. Requer uma dose e tanto de coragem.
Mas valeu. Obrigada pela seu comentário. Acho que é essa a finalidade do site:cada qual expressar o que sentiu em relação a determinada obra,mas esse livro, realmente, não "falou" ao meu coração.
Quem sabe em uma outra obra teremos a mesma opinião.
Abraços.


Silvana (@delivroemlivro) 08/08/2010minha estante
Antes que alguém se ofenda com meu comentário anterior, gostaria de dizer o seguinte:não gostar de algo considerado bom por quase toda a humanidade não é crime! Não é errado! Não é pecado! É apenas estranho... Nasci nesse país e não gosto de calor, também detesto Carnaval. Não suporto cerveja, nem cheiro de cigarro. Mas pelo menos não sou vegetariana, pois sendo gaúcha, seria estranheza demais para uma pessoa só. *r* Dirce, obrigada pela sua compreensão, afinal de contas somos todos estranhos sob algum aspecto dessa vida!


DIRCE 08/08/2010minha estante
Pois é, Silvana, os estramentos existem sejam eles, relacionados a algo ou a vida, e, coincidentemente, terminei de ler O Lustre de Clarice Lispector e ele trata do estranhamento diante da vida.
Sinta-se à vontande para comentar minhas resenhas, mas PLEASEEEEEEEEE, não pegue muito pesado (risos)


*Rô Bernas 13/05/2011minha estante
Olá! Estou acabando a leitura deste livro e confesso...está arrastada demais, pois estou achando o livro chato e monótono...e isso acontece quando não tem diálogos, pois a leitura fica extensa e cansativa...então quando vim aqui ler as resenhas onde todo mundo elogia a sutileza, beleza e profundidade, fiquei me perguntando a mesma coisa que você: "será que tenho sérios problemas?" rs Por isso respirei aliviada ao ler sua resenha e o comentário da Mag...não estou sozinha (UFA!) rsss
Mas o legal é isso...a diversidade de opiniões feitas com respeito, como a Silvana fez...acho isso fantástico, afinal a minha percepção de uma leitura é diferente da do outro.
Bjkas ;-)




César 21/12/2021

Um ouriço elegante, encantador e um tanto sensato
O livro vai contar a história de duas interessantes moradoras do luxuoso prédio de n° 7 da Rue de Grenelle. A primeira delas é a concierge (zeladora) Renée, que por fora se esforça pra parecer uma pessoa ranzinza e ignorante, mas esconde uma grande sensibilidade para a filosofia, arte e literatura. A segunda, a jovem Paloma, uma menina com inteligência acima da média que se sente muito insatisfeita com o inevitável destino previsível dos adultos, e para escapar dele pretende se suicidar no seu aniversário de treze anos, a não ser que encontre algo que a faça mudar de ideia.

Tudo começa a dar uma movimentada quando se muda para o prédio o sr. Kakuro Ozu, um ricaço japonês que desperta a curiosidade dos demais moradores. Em seu primeiro contato com Renée, ela acaba cometendo um deslize e soltando comentários aparentemente cultos demais para uma zeladora. Ele nota e mais tarde confidencia a Paloma, que também acredita que a sra. Michel não é o que aparenta ser. Então passamos a acompanhar a improvável aproximação desses três personagens tão distintos e ao mesmo tempo um tanto parecidos.

A elegância do ouriço é um livro de uma sensibilidade ímpar. A autora trata de temas delicados com surpreendente leveza e franqueza. O livro possui um humor bastante refinado e aborda também muitas questões sociais, além de debater filosofia, arte, literatura e cultura japonesa.
Sem dúvidas uma das melhores leituras do ano, com o um final inesperado e marcante pra quem lê e provavelmente irá levá-lo pra vida.
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