Vitor Hugo 20/11/2022
O DESCONHECIDO RESIDE EM CADA UM DE NÓS
Do autor polonês Stanislaw Lem, o livro SOLARIS foi publicado em 1961, sendo que a obra foi adaptada cinematograficamente pelo genial diretor russo Andrei Tarkovski em 1972. E foi com as imagens do filme na cabeça (visto por mim anteriormente à leitura) que li os quatorze capítulos do livro.
Na obra, acompanhamos o relato em primeira pessoa do psicólogo Kris Kelvin, que logo no início da narrativa viaja pelo cosmos até o exoplaneta Solaris, conhecido há décadas pelo ser humano, que construiu uma estação espacial de mesmo nome no local (não há menção à época em que vive a humanidade, mas seguramente se trata de uma era muito e muito além dos tempos atuais, nos quais mal estamos a ponto de voltar à Lua (Programa Artemis, da Nasa).
Chegando à estação, Kelvin se depara com o chefe da missão morto, e com apenas outros dois cientistas vivendo no local, agindo de forma estranha e perturbada em uma estação em estado desalentador (muito bem retratada no filme homônimo, havendo um forte contraste com os ambientes espaciais impecáveis do também livro/filme 2001).
Logo, Kelvin se depara com fenômenos absurdos, possivelmente provocados pelo oceano que "habita" o planeta, sendo ele o único ser "vivo" e aparentemente consciente daquele inóspito lugar. É assim que Kelvin se vê inexplicavelmente diante de Harey, que havia sido sua mulher e havia se suicidado anos antes, fato pelo qual ele se culpava.
Aliás, falando em culpa, a nota mais marcante do livro é fazer um paralelo entre o desconhecido do cosmos, com suas possíveis e ininteligíveis - para o ser humano - formas de consciência, e o desconhecido que nos habita, na forma do nosso inconsciente.
Sim. Porque de uma forma bem psicanalítica o "oceano pensante" confronta os homens na estação com seus desejos irracionais e experiências traumáticas "guardados" no inconsciente, acessados por ele justamente durantes o sono dos cientistas (pois é, pelo jeito o oceano tinha conhecimento de Freud, em especial da leitura dos sonhos como "janelas" para o inconsciente.
Daí decorre a melhor frase do livro: "o homem saiu para encontrar outros mundos, outras civilizações, sem saber nada sobre seus próprios recessos, ruas sem saída, poços e portas bloqueadas e escuras".
Observação: resenha escrita ao som de Echoes, do Pink Floyd.