Jorge 29/11/2022Cartinhas quentinhas, cheirando a enxofre.Além de escrever a famosa série de fantasia juvenil "As Crônicas de Nárnia", C. S. Lewis também escreveu uma vasta obra voltada aos adultos, sendo "Cartas de um diabo a seu aprendiz" uma das mais aclamadas. E com justiça! Pois méritos não faltam.
Trata-se de uma narrativa em primeira pessoa, desenvolvida a partir da troca de correspondências de um diabo experiente chamado Fitafuso, com o seu sobrinho muito mais jovem, chamado Vermebile (Screwtape e Wormwood, no original em inglês). Ambos são formados na Faculdade de Treinamento para Demônios Tentadores, o que faz desses dois diabos especialistas em fazer frente a influencia exercida pelo "Inimigo" na vida das pessoas. Considerando que essa é uma história narrada a partir do ponto de vista do diabo, já fica muito claro de quem se trata o "Inimigo" em questão.
No decorrer da narrativa vamos descobrindo que tio e sobrinho têm muito a dizer um ao outro. De um lado, Fitafuso, uma figura solene, dono de uma carreira de sucesso ininterrupto. Do outro lado, o sobrinho, Vermebile, um diabo em inicio de carreira, que está tendo que se desdobrar para que as almas de seus primeiros "pacientes" não lhe escape pelos dedos. Enquanto o sobrinho choraminga as suas dificuldades, o Tio, com toda a paciência de um diabo que teve a sua existência resumida a levar milhares de pessoas para um estado de orgulho e negação, falsa espiritualidade e falta de fé, vai agir como um mentor, ensinando ao sobrinho, através das cartas, técnicas e métodos de como ser perverso e persuasivo de modo mais significativo e eficaz.
Fica aqui a minha forte recomendação de "Cartas de um diabo a seu aprendiz". Este livro que é um excelente exemplo de teologia argumentativa, lógica e racional, transformada em excelente literatura. Inclusive, recomendo fortemente a leitura para todas as pessoas, inclusive para leitores menos religiosos, que independente da crença, anseiam por mensagens de ajuste de caráter pertinentes, capazes de nos manter equilibrados em momentos de ódio e tristeza, bem como valores universais, que servem para todos os indivíduos.
Li em uma edição de 2005, publicada pela editora Martins Fontes, com tradução de Juliana Lemos, revisão de tradução Frederico Ozanam Pessoa de Barros e revisão técnica de Geuid Dib Jardim.