Tayane Cristie
03/07/2013Cores de Outono - Keila Gon Aos 21 anos de idade, Melissa Wels carrega uma grande responsabilidade: cuidar da irmã caçula de 5 anos. Isso porque a mãe e o padrasto morreram em um acidente. Então, Melissa e a irmã, Alice, vão morar em uma cidade no interior de São Paulo com o avô. Cidade essa que carrega suas crenças e temores devido à família “sinistra” que mora na montanha. E é nesse mundo surreal que Melissa vai parar, ficando cercada de todas as formas possíveis pelo poder da atração que sente por aquele a quem todos temem.
A autora conseguiu me ganhar com esse livro. Claro que, como todo autor estreante, a história tem lá seus erros, coisinhas mínimas que poderiam ser diferentes. Mas nada que o poder da narrativa de Keila não te faça ignorar. A história é contada de forma leve e divertida, acompanhamos aquele turbilhão de emoções e preocupações que estão passando pela mente de Melissa devido à narração em primeira pessoa, e isso cria uma conexão instantânea com a personagem. Tá certo que eu não morri de amores pela protagonista durante toda a leitura (às vezes ela me dava nos nervos, como, por exemplo, em uma situação de perigo ela ainda conseguia ficar parada, admirando a beleza de Vincent, e eu tinha que parar para respirar antes de voltar a leitura), mas Melissa tinha um modo bem descontraído de narrar aqueles acontecimentos malucos, o que me ajudou a sentir muitos dos sentimentos que ela estava sentindo.
Vincent, o homem misterioso e temido da montanha, é um cara sério e, realmente, assustador. Devido a sua falta de paciência em tratar de algumas coisas (e tratar algumas pessoas), Melissa até lhe deu o apelido de “cavalheiro carrancudo”, o que combinou perfeitamente com ele e suas mudanças constantes de humor. Enquanto ele e Melissa ficavam naquele “chove não molha”, eu tinha minhas dúvidas sobre ele, esse lado sombrio que ele carregava. Por isso, na minha opinião, algumas informações contidas na sinopse poderiam ter sido descartadas, deixando um ar de mistério para que o leitor se surpreendesse quando a história desse um giro de 180º e tomasse o rumo do fantasioso.
Falando da fantasia, acho que a autora soube utilizar aquela coisa de elfos, magos e afins, mas ainda há muito a ser explorado desse mundo, o que me faz criar grandes expectativas para o segundo volume, esperando uma expansão sobre o conteúdo mágico da história.
Outro personagem que conseguiu me conquistar desde a primeira aparição foi Arthur. “Amigo” de infância de Melissa, ele é brincalhão, gozador e adora tirar sarro de alguém; mas também é companheiro, um bom amigo e sabe dar apoio quando necessário. Não vou negar que torci mais por ele do que por Vincent. Apesar de gostar de personagens misteriosos e que carregam uma bagagem de segredos para serem desvendados, foi difícil não me deixar levar pelo humor contagiante de Arthur. Juro que estou disponível quando ele quiser partir pra outra ;D
Alice, a irmãzinha de Melissa, é um amor. Aos poucos vamos tendo pistas do que, num futuro não tão distante, levaria Melissa a entrar no mundo da fantasia que ela pensou existir apenas nos livros de contos de fadas, e Alice é uma das razões para isso. George, o avô das meninas, era como um pai, e eu admirava sua “super”proteção, afinal ele não queria perder mais ninguém, e Melissa era um desastre natural. Também gostei de outros personagens, como Rose, que não apareceu muito, mas conseguiu ganhar minha afeição. Alex e Viviana também têm um papel importante nisso tudo, e são uns amores.
Cores de Outono me causou um misto de emoções. Eu sorri, fiquei com raiva, xinguei mentalmente os personagens, suspirei por eles e torci para que no final tudo desse certo (principalmente pro Arthur *-*). Assim como Melissa, senti várias vezes borboletas voarem por meu estômago enquanto eu aguardava o desfecho de uma cena. Não sei se está parecendo que não gostei de Vincent, mas eu gostei dele sim. O ar dele de mistério no início é fatal para uma atração súbita, e suas mudanças constantes de humor só faziam com que eu quisesse desvendar esse homem logo. E, lamento admitir, no fim ele ainda é uma incógnita. Descobrimos muito sobre ele, mas ainda há mais por vir, coisas que deixariam qualquer um de cabelo em pé. Ele também tem aqueles olhos turquesa que deixam qualquer uma de boca aberta, só apreciando a vista. Até entendo a distração de Melissa quando ele apareceu, é impossível resistir àquele charme e galanteio de outro século. Vincent era mesmo um cavalheiro, mesmo quando estava de mal humor.
Achei a capa muito lindinha. Ela mostra uma árvore desfolhando no outono naquela montanha mágica e misteriosa. A escrita da Keila é muito gostosa de ler e ela soube caracterizar bem os personagens, os cenários, os olhos de Vincent... Só encontrei alguns errinhos de ortografia (um ou dois) e a falta da vírgula em algumas frases, mas nada que atrapalhe uma fluida leitura. Mais uma vez a Novo Século está de parabéns pelo livro publicado no selo Novos Talentos da Literatura Brasileira.
Recomendo o livro para todos aqueles que gostam de romance, fantasia e algumas borboletas no estômago.
Quotes:
“Eu o fitei... Parte indignada, parte confusa, parte fascinada.”
“– (...) Você acha que sou imprudente? Que procuro o desastre?
- Posso até dizer que ele procura você.” – Melissa e Arthur
“Vincent esticou os dedos roçando-os em minha nuca e um arrepio de color correu meu corpo, acordando um batalhão de borboletas frenéticas em meu estômago. Meus olhos ficaram presos nos dele e mergulhei nas águas cristalinas e profundas dos oceanos turquesa. Reconheci aquele olhar, olhos brilhantes e decididos. Meu coração parou com um solavanco, eu não estava respirando... Só havia silêncio. Ele escorregou a outra mão por meu braço até minha cintura, trazendo-me para mais perto. Senti meu corpo se aproximar do dele e meu coração explodiu no peito, frenético e descompassado. Minha respiração voltou ofegante, seu perfume tomou minha garganta e me concentrei em sua boca rosada... não havia mais volta.”
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