Marcela 30/04/2020
No universo criado pela autora, existem humanos, seres sobrenaturais clássicos (que passam por uma transformação, como vampiros, lobisomens e fantasmas) e seres preternaturais (designação atribuída a pessoas que, devido a uma condição genética, não possuem alma e conseguem anular os poderes de um sobrenatural a partir do toque). É interessante notar que, na Inglaterra vitoriana de Gail Carriger, os seres sobrenaturais convivem pacificamente com os humanos, tendo regras a cumprir, tais quais: o devido registro no Departamento de Arquivos Sobrenaturais; a formação de colmeias (como são chamados os covis de vampiros ao redor de seu líder) e alcatéias de lobisomens, nos quais podem agregar humanos que os servem, interessados na transformação; e etiquetas sociais, como por exemplo, não atacar humanos.
Em meio aos bailes da alta sociedade londrina, cheia de mães casamenteiras, há espaço para a fantasia, para a investigação policial (quando o DAS é acionado para acompanhar os estranhos eventos que passam a se suceder, como desaparecimentos de conhecidos e aparições de outras criaturas estranhas que atacam inocentes), para a ficção científica com um leve toque de horror e até para a comédia e a sensualidade -- a cargo das interações entre nossa protagonista, Alexia Tarabotti (uma mulher que desafia todos os padrões daquela sociedade: continua solteira aos 26 anos; tem traços mediterrâneos e personalidade forte, sendo inteligente, destemida e sarcástica; e, além de tudo, ainda é preternatural), e Lorde Conall Maccon, o conde que também é um lobisomem alfa membro de alto escalão do DAS.
Embora eu já tenha lido várias fantasias urbanas cheios de comentários sarcásticos da protagonista feminina que dão tom de comédia ao enredo geral, e com esse toque de romance, nunca tinha lido nada de steampunk e, certamente, não esperava que tudo isso pudesse se mesclar de uma forma coesa. Mas que surpresa foi ver que esse livro, que marca o início da série "O Protetorado da Sombrinha", une o melhor dos dois mundos, tal qual Hannah Montana. Demorei um pouco a engatar a leitura em parte por ser o primeiro contato com esse tipo específico de ficção, mas principalmente porque os capítulos são meio longos (coisa que eu particularmente não gosto muito). Mas, passado o estranhamento inicial, aos poucos, a narrativa foi me envolvendo e, quando eu menos esperava, estava me divertindo bastante e morrendo de curiosidade para saber o desfecho da história. E, tirando conclusões a partir do primeiro volume, posso apostar que essa série vai entrar para o time das minhas fantasias favoritas por sua originalidade e irreverência.