Luis0501 22/12/2021
"O Espadachim de Carvão" reacendeu uma chama dentro de mim
Não sei se é só comigo, mas me dá prazer ler um bom livro nacional. É sempre bom saber que nossa literatura não morreu com os velhos clássicos que somos forçados a ler para o vestibular. Mas vamos a obra. Dei esse título à resenha porque o livro de fato reacendeu algo dentro de mim (e para fazer um trocadilho com carvão, acender, chama). Quando era adolescente eu lia basicamente só fantasia. Eu era apaixonado pelo gênero. Harry Potter, Percy Jackson, Deltora Quest, Eragon (os livros, o filme é horrível). Conforme fui crescendo, lá pelos meus 18, 19 anos eu comecei a me aventurar em outros gêneros a fim de conhecê-los. Li romances, suspenses, terror, ficção científica e por aí vai. Fazia muito tempo que eu não lia uma boa fantasia. E "O Espadachim de Carvão" é grandioso. É a melhor fantasia que eu já li? Não. Ele tem alguns defeitos que apontarei em seguida. Mas é bom o suficiente para me deixar com vontade de conhecer aquele mundo. E na minha opinião, se um livro de fantasia não consegue te tirar da realidade, então ele não presta. A maioria das fantasia são baseadas em mitologia (como Percy Jackson) ou em mundo RPGisticos, com magia, dragões e elfos. Nada contra esses estilos, eu amo ambos. Mas o "Espadachim de Carvão" está em uma categoria diferente. Ele é único. Seu mundo é habitado por criaturas que não existem em nenhum outro lugar. O protagonista tem a pele toda negra e sem pelos, não tendo também nariz e orelhas. Há também seres com tentáculos e um olho capaz de desmaiar os outros; criaturas de 3 pernas, 4 braços e pele transparente; seres de cabelos roxos e que exalam um tipo de feromônio para seduzir outros seres e por aí vai. Sem falar de uma arte marcial/esgrima usada pelo protagonista que por si só já é uma característica muito marcante da história. Isso dá a obra uma identidade única. Nenhum outro livro terá algo sequer remotamente parecido com esse. Agora que já falei bem do livro, vamos aos defeitos. Os capítulos revezam com a história acontecendo no presente e flashbacks do passado do protagonista. Isso ajuda a explicar alguns fatos da história ao mesmo tempo que dá um certo suspense. Por exemplo, no presente o protagonista fala sobre algo que ocorreu no passado e o afetou, mas ele não entra em detalhes sobre o que aconteceu, nós só descobrimos quando esse flashback específico aparece. Isso me incomodou no começo do livro, pois me deixou bem confuso. O primeiro capítulo termina com ele fugindo de alguns perseguidores e o segundo começa com ele nadando calmamente em um lago, então fiquei perdido sem saber o que aconteceu com a perseguição, até entender que o que está sendo contado ocorreu no passado. Mas depois de perceber que o livro funciona nesse formato parei de me incomodar e até gostei desse estilo de escrita. Outro problema da história é em relação ao seu tamanho: ela é pequena. O autor criou um mundo imenso, com criaturas, países, até mesmo religiões únicas. Mas isso tudo é muito pouco explorado. Durante todo o livro o protagonista está fugindo de seus perseguidores, ao mesmo tempo em que tenta entender porque estão atrás dele. Por causa ele passa bem rápido pelas cidades daquele mundo, interagindo muito pouco com seus habitantes e sua cultura. O protagonista diz diversas vezes que gostaria de aproveitar e experimentar melhor tudo aquilo (sentimento que compartilhei com ele durante todo o livro) mas que não pode parar porque se o fizer ele será alcançado e morto. Isso me deixou muito frustrado, porque eu queria conhecer mais daquele mundo, mas não pude. Achei que houve um grande desperdício de mundo e mitologia, que poderia ter sido muito mais explorada, talvez em um livro maior. Harry Potter é um exemplo onde um mundo imenso é muito bem apresentado. Nós nos aprofundamos tanto no mundo bruxo que aquilo parece até real, parte de nossas vidas. Queria ter sentido isso com "O Espadachim de Carvão" também (sei que esse livro tem continuações e eu as lerei, mas o primeiro livro foi o suficiente para conhecermos Hogwarts com uma clareza de detalhes imensa. Dizer que haverão mais livros não é justificativa para essa falta de aprofundamento). O último defeito que gostaria de apontar é sobre o final do livro: ele é muito corrido. Eu já disse que toda a história ocorre durante uma perseguição, mas ele vai mostrando o protagonista enfrentando seus inimigos, fazendo alguns aliados e investigando o que está acontecendo. Nesse processo ele vai encontrando mais perguntas do que respostas, o que nos deixa envolvidos com seu drama. Mas todas essas perguntas são respondidas no último capítulo. O confronto final do protagonista com o líder de seus perseguidores ocorre em um único capítulo, onde tudo é explicado em um discurso vilanesco digno de vilão de 007. Conclusão: o começo do livro foi meio lento, seus meio foi ótimo e seu final foi corrido. Pós-conclusão: não é o melhor livro de fantasia que já li, mas é excelente. Gostei muito dele (apesar dos problemas que apontei), o suficiente para comprar as continuações. Espero que nelas o autor tenha trabalhado melhor essas questão de ritmo e aprofundamento de mundo.