GilbertoOrtegaJr 20/08/2017Cadê você, Bernadette? – Maria SempleNão é raro eu pegar algum livro mais simples para ler, como livros que, em geral, são extremamente fluidos e divertidos, e com enredos mirabolantes e pouco críveis. Para mim, o lado bom deste tipo de livro é o fato de que posso abri-lo e ser levado por várias e várias páginas sem ter que pensar muito, só lendo e me divertindo. Isso não quer dizer que, por esses romances serem caracterizados como de entretenimento, não são obras das quais não se dá para debater ou discutir. Para isso, o ponto mais importante que temos que levar em conta é que estaremos analisando um livro comercial, e não algum romance inovador em técnicas e conteúdo.
Em Cadê você, Bernadette? de Maria Semple, tomamos conhecimento de uma enxurrada de acontecimentos tragicômicos, que levaram ao desaparecimento de Bernadette Fox. A própria Bernadette é o enigma em pessoa: para seu marido, um importante empresário da Microsoft, e sua filha Bee, ela é uma pessoa incrível; Para as outras mães da escola Galer Street, Bernadette é uma pária inconveniente; e para especialista em arquitetura ela é um gênio pioneiro na arquitetura sustentável. Ela não gosta de sair de sua casa, e nas poucas vezes que sai é com sua filha e uma amiga de sua filha, ou com seu marido, já que ela nutre uma relação de profundo ódio com Seattle, a cidade onde vive. Então, quando Bee aparece com seu boletim perfeito e cobra as férias na Antártida onde os pais prometeram levá-la caso ela tivesse as melhoras notas, acaba surgindo um grande problema para Bernadette que, junto com uma outra sucessão de acontecimentos, causa seu desaparecimento.
Uma das cosias que mais gostei em Cadê você, Bernadette? é o fato de ali estar presente vários temas contemporâneos como tecnologia, arquitetura sustentável, associações de mães que vivem como abelhas de uma colmeia, sempre trabalhando em conjunto em prol de uma suposta manutenção para uma sociedade melhor, as novas escolas que buscam um perfil mais liberal de educação e menos tradicional, o uso de drogas por jovens, estresse pós traumático, etc. Essa longa lista de temas que nos são apresentados no romance, dos quais nenhum Maria Semple procura tratar com uma especialista, acaba fazendo com que o livro reflita o seu tempo.
Outro ponto importante é o humor que a narrativa em si, pois tudo tem um forte tom humorístico. Entretanto, este tom não é criado através de piadas, e sim de situações totalmente fora do comum ou inusitadas, ou seja, a autora não fica forçando a barra contanto piadinhas a todo instante, uma vez que ela cria a cena e deixa a cargo do leitor qual será a reação dele diante daquilo.
A forma como as coisas são narradas é extremante interessante, pois no começo toda a história é contada através de vários documentos compilados por Bee, que vão desde e-mails, artigos de revista, faturas de seguro médico e dentre vários outros. Isso, por sua vez, acaba criando várias vozes narrativas, sempre dando para o leitor uma noção melhor daquilo que aconteceu, já que em alguns momentos aquilo que um personagem narra pode ser algo parcial, que será complementado com a versão de um outro personagem por aquele mesmo acontecimento.
Por fim, eu gostaria de deixar claro o quanto eu gostei da leitura desse livro, pois desde a sua primeira página eu não consegui deixá-lo de lado um único instante, e passava horas lendo ele sem me entediar em momento algum. Isso se deve ao fato de que, além do livro ser extremamente engraçado e divertido, ele também é inteligente. É claro que há ali uma gama muito grande de situações que não tem a mínima verossimilhança, mas é sempre interessante o leitor se lembrar de que o que tem em mãos quando for ler Cadê você, Bernadette? é apenas um romance cuja intenção é bem mais entreter do que ganhar algum grande prêmio literário.
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