Guilherme 30/06/2017
Intenso.
Preciso parar um pouco e respirar antes de escrever, isso porque acabo de terminar esta leitura, que me deixou, literalmente, sem fôlego.
Quando li o primeiro volume da série, disse que ele era um pouco aguado. As palavras exatas foram: "Este não é um livro intenso, de emoções fortes, mas de perfeita suavidade, como um suco de laranja". Foi exatamente para contrapor esta frase, que entitulei a resenha deste segundo volume com "intenso", pois ele quebra o paradigma de seu antecessor e nos arrasta numa corrida desesperada, cercada de perigos e loucuras.
Há duas guerras acontecendo: a "normal" (Eixo x Aliança) e a "sobrenatural" (etéreos e acólitos x peculaires). Nossos personagens estão exatamente no meio desses dois conflitos, numa hora sofrendo as lamúrias do primeiro, noutra do segundo, e às vezes de ambos simultâneamente! O autor faz questão de deixar claro o horror da situação, nos apresentando constantes cenários de morte, sangue e destruição. Tudo é muito chocante, muito condensado. Se o primeiro era um suco de laranja, este é um café forte.
Os dois maiores problemas livro anterior, isto é, a infantilização dos antagonistas, e a superficialidade dos personagens, foi resolvida com maestria. Nos deparamos com novos etéreos, mais fortes e desenvolvidos, com acólitos mais inteligentes e assustadores, e com personagens peculiares profundos e únicos. As personalidades e trejeitos se desenvolveram, revelando histórias por trás dos poderes e nomes. Além disso tudo, o autor parece que se volta para um público mais velho, trazendo conflietos e dilemas éticos seríssimos, que nos conduz a pensar o que realmente faríamos se fôssemos nós naquela situação.
No entanto, dois problemas novos se revelaram:
1º. O livro traz uma angústia ininterrupta. É como se Riggs segurasse firmemente seu coração, e o apertasse cada vez mais. O único "alívio" que encontramos é no romance de Jacob e Emma, mas são momentos tão rápidos, que se esvaem como fumaça no turbilhão de ansiedade, dor e aflição. Os personagens não comem ou dormem, e até os momentos "felizes", são embargados por pensamentos conflitantes do protagonista ou algo semelhante. Não há sequer um personagem "alívio-cômico".
2º. Duas das três melhores partes do livro anterior são o romance e as fotos. Neste, o relacionamento dos protagonistas é desnecessariamente abalado. As fotos, por sua vez, são mais escassas e, com exceção de algumas, bem menos interessantes.
Não obstante, Cidade dos Etéreos consegue ser tão bom quanto seu anterior. Não sei se é melhor, nem se dá para julgar isso, já que parece ter um estilo completamente diferente, ainda assim conseguimos ver claramente o desenvolver do autor enquanto criador de literatura. Seu crescimento é notável, também o crescimento da narrativa, que deixa de ser mediana e se torna muito mais interessante e cativante.
Sem mais, seguirei com ardente expectativa para o desfecho da saga, deixando minha recomendação à este excelente obra.