Ana Catarina 22/04/2010
Vamos abstrair.Você é uma índia. Você vive no mato, anda descalça (ou seja, tem o pé naquelas),não tem conhecimento sobre escovas de dente e provavelmente tem não só as mãos, mas o corpo todo machucado porque vive andando no mato poxa, e arranhões são inevitáveis,certo?Errado.Iracema deixaria qualquer deusa no chão. Morro só de pensar na imagem.Um ser maravilhoso correndo entre galhos, sem fazer barulho, sem perder a pose.E digo mais, você tem os cabelos mais pretos que a asa da graúna, um hálito de baunilha, um sorriso doce e é a virgem dos lábios de mel.
E essa virgindade é bem ressaltada. Romantismo é assim: virgindade = pureza = mulher ideal.Ahhh mas assim não teria graça.Iracema é virgem sim, mas não besta. Tanto que na primeira oportunidade ela dopa Martin e aproveita que ele está lá, todo na brisa, pra perder seu hímen (quem já ouviu a história do boa noite cinderela?aposto que eles se inspiraram nesse livro). E pronto. Aí está você, grávida de um ser pálido e com cabelos louros que não faz parte da sua tribo.Daí pra frente é igual a todo romance romântico:trágico.
Particularmente não gosto de romantismo (literário, por favor). Todo mundo é uma coisa só : bom ou mal, puro ou não.Furado.Isso enjoa.
Tem aquela história de Iracema ser a síntese do Brasil: Alencar quis gravar em sentido figurado a essência do país. Tem a índia toda pura lá (Améria ainda não descoberta), aí chega o branco colonizador e fode (haha literalmente) tudo.O índio se entrega ao branco com facilidade, talvez por sua inocência/ignorância, e dessa mistura nasce o brasileiro sofredor (Moacir, o nenê).
Se você vai ler, prepare-se pra enfrentar as descrições de cenário maaaais longas da sua vida. Ah, e se for diabético, cuidado: é melado demais.É sério.