Lamboglia (@estantedotibas) 23/08/2017
"Pára, pelo amor de Deus. Não é para matar! Já chega, acabou! Acabou!"
Autor: Drauzio Varella
Ano: 1999
Páginas: 302
Ed: Companhia das Letras
No ano de 1989, o médico Drauzio Varella chega à casa de detenção "Carandiru" para promover um trabalho voluntário sobre a prevenção do vírus das AIDS, o HIV para mais de 7,200 presos. Lá, conheceu várias pessoas, de várias histórias e vários crimes. Em "Estação Carandiru" Drauzio nos convida a entrar em um ambiente hostil, escasso, abandonado e de estrutura comprometedora. Os primeiros capítulos nos serve como guia de ilustração imaginária para podermos ter uma visão mais ampla sobre a estrutura do complexo. Seus pavilhões são apresentados um por um com definições sobre suas composições. Cada complexo que possuía cinco andares cada, eram separados de forma sistemática. Alguns eram desejados e outros renegados devido aos eventos que aconteciam por lá, principalmente na famosa "rua 10". Após as apresentações, Drauzio Varella vai relatando nas páginas seguintes cada esquema que funciona dentro do complexo, é surreal, mas é fato. Televisão, pastel. churrasquinho, pinga. Tudo isso existia por lá. Aluguel e vendas de celas, tráfico de drogas, relacionamentos homo afetivos, acerto de contas, cigarros(não apenas ele) funcionam como escambo e; dinheiro, se tiver, é sempre bem-vindo. O interessante do livro que nem tudo é relatado pelo próprio autor, há participações dos detentos também, e alguns são mencionados várias vezes, como outros tem suas histórias (mais de uma até) contadas. Algumas engraçadas, outras bem tensas.Há também participação dos agentes penitenciários exercendo a sua função e relatos de outros que enveredaram para o caminho oposto da profissão, até chegarmos ao momento estarrecedor que virou palco de uma intervenção "desastrosa e mal-preparada" pela PM do Brasil. Tudo isso é apresentado com uma escrita muito simples de se ler e compreender.
O Carandiru caiu na cultura pop do pais, sendo mencionado por vários artistas em suas músicas como por exemplo: "Diário de um Detento" do grupo Racionais MC's,, "Roleta Macabra" E outros que criaram um grupo dentro e fora do complexo: 509-E do Dexter e Afro-X e a banda Pavilhão 9. Além de outros livros sobre a antiga casa de detenção, há também o filme (2003) do saudoso Hector Babenco juntamente com o rapper Sabotage que não apenas atuou no filme como serviu de consultor para o diretor.
"Estação Carandiru" é uma leitura bastante interessante, pois mesmo não sendo objetivo deste livro denunciar um sistema penal antiquado, fica no ar o direito do leitor de questiona-lo e critica-lo.