Laura Finesso 18/02/2020Simples, porém intenso"Cadeia é um lugar povoado de maldade."
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Registro pessoal da época em que Drauzio Varella fez um trabalho voluntário de prevenção de AIDS na Casa de Detenção de São Paulo, Estação Carandiru é um livro forte e sincero sobre o dia a dia na prisão. É composto por capítulos relativamente curtos que contam inúmeras histórias e relatos dos presos e do Dr., tal qual tem uma escrita fácil e imersiva que nos conduz adentro das vidas dos presos de forma orgânica e natural.
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Para quem tem alguma aversão a livros descritivos demais sobre violência, talvez a leitura possa ser difícil. Até mesmo eu, que estou habituada com leituras desse tipo, tive que parar em alguns momentos. É tamanha intensidade nas palavras, mesmo que essas sejam aparentemente simples, que pode nos ser estranho.
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Porém, é inegável a importância desse livro: ele expõe toda a situação carcerária brasileira, como os presos e carcereiros vivem, e as consequências disso na psiquê. Além de, claro, abordar o surto de AIDS que teve na prisão e o grande uso de drogas.
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Contudo, a parte que mais me chocou foram os últimos três capítulos, em que é descrito o antes e o após do Massacre de 1992. É feito com tamanha simplicidade, entretanto o que choca é a violência, a maldade explícita no decorrer do massacre. Mesmo já tendo conhecimento dos detalhes, simplesmente fiquei sem fôlego e, ao mesmo tempo que queria parar de ler por estar em choque, queria também continuar e ver o que estava por vir. É difícil descrever o aperto e a densidade daquele momento.
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Enfim... Já admirava bastante o Dr. Drauzio Varella antes, mas após esse livro, estou ansiosa para conhecer outras obras dele. E para quem tem interesse em saber o que se passa dentro de uma prisão, esse livro é um ótimo começo, ainda mais sendo sobre uma prisão tão conhecida. É um livro que acho que todos deveriam ler.
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