PorEssasPáginas 03/04/2014
Resenha Minha Metade Silenciosa - Por Essas Páginas
Eu vi várias críticas positivas sobre a história e por isso solicitei esse livro para leitura. Confesso que ele me passou sentimentos conflitantes porque mostra uma realidade nua e crua, angustiante, que é impossível você não se emocionar pelo menos uma vez. Ao mesmo tempo, Stark narra sua história de tal forma que você se vê sorrindo em suas descobertas.
Então, antes de mais nada, para mim a sinopse é um baita spoiler. Mas vou explicar isso mais tarde, calma aí.
Primeiramente, temos Stark, o Palito, narrando a história e explicando sobre sua “deformidade”. Por conta da ausência de sua orelha direita, ele tem uma baixa auto-estima muito grande – e não por causa do bullying que sofre na escola. Ele tem certeza de que não é querido em casa, que seus pais o odeiam, assim como não gostam de Bosten.
A relação entre Palito e Bosten com seus pais não era fácil. Os dois viviam em um lar totalmente sem amor, apenas com regras e punições para quem as infringia. Simplesmente são cenas que me deixavam arrepiada, não apenas por serem violentas (na verdade, somos poupados das cenas mais fortes, uma vez que elas aconteciam com Bosten e o livro era do ponto de vista apenas de Stark), mas pelo que representavam. Os irmãos não sentiam amor pelos pais, porém é compreensível e mais triste ainda constatar que eles ficaram assim por nunca receberem amor.
Por causa disso, eu sofria com o Stark e o Bosten. Ao mesmo tempo que Stark era uma criança, algumas vezes ele parecia um adulto amargurado e deprimido. Por isso a minha leitura acabou se arrastando um pouco, acho que foi como se eu estivesse em estado de negação quanto ao que acontecia no livro, porque eu sei que isso acontece em muitas famílias na vida real. E Stark e Bosten sofrem muito, são reprimidos ao extremo, apenas contando um com o outro.
O que eu gostei muito do livro foi a relação entre Stark e Bosten. Era a representação de amor incondicional entre irmãos. No decorrer da trama, Stark começa a amadurecer e ele demonstra ser muito mais sensato do que Bosten, que é aproximadamente dois anos mais velho. Bosten defendia o irmão dos colegas da escola custasse o que for, e Stark apoiava o irmão no que fosse, além de tentar fazer de tudo para ajudar.
Uma peculiaridade no livro que achei muito interessante é que Stark às vezes narra com o texto alinhado à direita, além de alguns trechos que ele narra como ele ouve, ou seja, com um espaçamento bem maior entre uma palavra e outra. Eu lia e imaginava exatamente como o Stark se sentia com esses intervalos entre uma palavra e outra.
Agora deixa eu explicar para vocês sobre o spoiler da sinopse: O livro é muito mais do que simplesmente a busca de Stark pelo irmão. Quando eu o peguei para ler, achei que Bosten fugiria logo nos primeiros capítulos, o que não aconteceu. O rito de passagem descrito na sinopse existe mesmo, mas eu tive a impressão que esse “rito” foi acontecendo gradualmente durante a história, não simplesmente durante a busca pelo Bosten – se bem que concordo que foi a parte mais tensa do livro. Imaginem um menino de 13, quase 14 anos dirigindo em busca do irmão, sem sequer saber para onde ele foi?
Enfim, é uma história de amadurecimento, em que Stark vai se descobrindo, aprendendo que a vida pode ser dura e que ele não tem que depender sempre do irmão para se safar. Afinal, ele também tem que ser o apoio do irmão algumas vezes.
Quando eu comecei a ler, eu não consegui me apegar às personagens. Mas no decorrer da leitura, isso mudou completamente e lá estava eu, pensando nas decisões desses dois e como eu queria estar lá para ajudá-los também. O livro é muito bem escrito, a narrativa é simples e, por se tratar de um drama, o ritmo pode ser mais lento do que o normal, mas com certeza não é desperdício de tempo, muito pelo contrário. Por isso a leitura é mais que recomendada.
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