Vanessa Vieira 26/01/2019
Por Toda a Eternidade - Kristin Hannah
Em Por Toda a Eternidade, segundo e último volume da duologia Firefly Lane, de Kristin Hannah, acompanhamos um romance repleto de dor, desafios e transformações. Confesso que a primeira parte do livro foi um tanto morna e que acabei até mesmo sentindo falta da intensidade presente em Amigas para Sempre, entretanto, na segunda metade da obra, a trama se tornou emocionante e incrivelmente tocante, mostrando todo o talento e a delicadeza presentes na escrita de Kristin Hannah.
Tully Hart é uma mulher forte, independente e ambiciosa, que busca nutrir na carreira profissional tudo aquilo que lhe faltou no campo emocional. Tal fórmula, somada com o fato dela esconder profundamente todos os sentimentos de rejeição que passou durante a sua infância, funcionou razoavelmente bem até que sua melhor amiga, Kate Ryan, acaba falecendo. Desde a morte de Kate, tudo começou a desmoronar na vida de Tully, que abusa do uso de remédios para dormir e vai escorregando cada vez mais em um abismo de memórias, dor, melancolia e solidão.
Dorothy Hart - vulgo Cloud, como ficou conhecida na década de 70 - se encontra no centro desse furacão emocional que permeia a vida de Tully. Ela abandonou a filha por inúmeras vezes na infância, até que as duas romperam a relação de uma vez por todas e nunca mais se falaram.
Marah Ryan, de dezesseis anos, ficou completamente devastada com a morte da mãe, Kate. Embora seu pai e seus dois irmãos se esforcem ao máximo para manter a família unida, a adolescente se encontra cada vez mais rebelde e inacessível, imersa em sua própria dor. Tully tenta se aproximar da afilhada na medida do possível, mas a sua incapacidade de lidar com suas próprias emoções e também com as alheias, afastam Marah ainda mais, fazendo com que a garota busque refúgio em um relacionamento conturbado com um rapaz extremamente problemático.
A vida dessas três mulheres está intrinsecamente interligada e a maneira como elas lidam com seus próprios erros e acertos é o alicerce deste romance, que trata sobre o amor, o perdão, a maternidade, as perdas, as alegrias e claro, os recomeços da vida...
Por Toda a Eternidade nos traz uma sequência à altura de Amigas para Sempre, entretanto o ritmo de um livro para o outro é bem variável. Enquanto no primeiro romance tudo acontece de uma forma intensa e voraz, nesta sequência o enredo segue um compasso linear e vai avançando gradativamente, mais especificamente na segunda parte da história. Lidar com um leque de personagens requer destreza e paciência e é justamente por isso que Kristin Hannah vai costurando o enredo aos poucos, moldando cada personalidade paulatinamente e nos agraciando com muitas surpresas e emoções. Narrado em terceira pessoa de forma delicada, fluída e com picos de emoção, o livro conseguiu me agradar e, mais uma vez, me levar às lágrimas.
Confesso que gostei mais da Tully neste segundo romance de Firefly Lane. No primeiro livro, enxerguei a personagem com uma tez um pouco egoísta e, em alguns momentos, notei até mesmo que ela sentia uma pontinha de inveja de Kate por ter casado e constituído família. Entretanto, neste romance, a alma da personagem fica completamente desnuda ao leitor e conseguimos entender de uma forma bem ampla seus sentimentos, anseios, decepções e, sobretudo, suas próprias maneiras de camuflar e isolar a dor. Mesmo passando por duras complicações no trabalho e também no que concerne a sua saúde, ela tenta ajudar a família de Kate do jeito que pode, mas sempre é brutalmente rechaçada por eles, que estão sofrendo intimamente. Acompanhar sua infância, seus medos, mágoas e decepções mostraram uma outra faceta da personagem, por sinal bem comovente e emocionante.
"Em vez de ignorar a dor, você precisa mergulhar nela, usá-la como um casaco quente num dia frio. Há paz na perda, beleza na morte, liberdade no arrependimento."
Dorothy cometeu muitos erros no passado e por mais que queira, nada irá apagar isso, que se refletiu e ainda se reflete amargamente na vida de Tully. Entretanto, por mais que os seus motivos não sejam justificáveis, entendemos - mesmo que de forma superficial -, algumas de suas atitudes, o que nos leva a crer que ela é uma personagem que merece uma segunda chance. Vítima de violência doméstica e absorta no alcoolismo e nas drogas, ela foi uma hippie dos anos 70 e com essa sua vida meio que nômade, nunca conseguiu dar estabilidade tanto familiar quanto sentimental para sua única filha, que cresceu carente, melancólica e profundamente magoada. Marah foi uma personagem que me irritou e muito. Fica evidente pelo deslanchar da trama que todos os personagens estão lidando com a sua própria dor desde o falecimento de Kate e cometendo uma série de erros e acertos por conta de seu luto, porém a adolescente de dezesseis anos é imatura, mimada e toma os piores caminhos, mesmo recebendo amor, carinho, aconselhamento e conforto daqueles que ama. Suas atitudes na história soaram quase como injustificáveis - ao menos para mim - e achei que a ficha da jovem demorou muito, mas muito mesmo para cair.
Em suma, Por Toda a Eternidade é um romance que trata de perdas, amizade, segundas chances e recomeços. Sintetizando o enredo de Kristin Hannah, onde há amor, há perdão e é justamente esse mantra que circunda cada uma das três personagens principais da trama - Tully, Dorothy e Marah -, delineando bem a profundidade de seus sentimentos e as conduzindo em direção ao afeto, ao renascimento e ao mais profundo e visceral amor. A capa do livro é uma graça e nos traz três velas acopladas em potes de vidro e um céu arroxeado e polvilhado de estrelas e a diagramação está ótima, com fonte em bom tamanho e revisão de qualidade. Recomendo, com certeza!
site: http://www.newsnessa.com/2019/01/resenha-por-toda-eternidade-kristin.html