Luke_Vieira 23/06/2023
Um convite à imaginação, mas para poucos convidados.
Infelizmente, eu não sou um desses convidados. Se sou, fui embora do evento bem cedo.
As Cidades Invisíveis é, acima de tudo, uma coletânea de ideias sobre cidades imaginárias, ou talvez variações imaginárias sobre Veneza (cidade pela qual o autor, um cubano que se mudou ainda muito novo para Itália, claramente era apaixonado).
Cada cidade do livro, com suas particularidades sociais, culturais e arquitetônicas, te convida a interpretá-la da forma que quiser, bem como o livro também faz.
Sem muita narrativa linear (o que só acontece em curtos trechos ao fim ou começo de capítulos), cabe ao leitor dar sentido à escrita vaga e as vezes simplesmente confusa de seus textos.
Dentre algumas reflexões humanas ou ideias realmente revolucionárias do que poderia ser uma cidade inovadora, senti que a maioria das páginas mais divagam sobre conceitos banais e ordinários do que chocam sua mente com frases impactantes e sacadas criativas.
Pela minha leitura e, principalmente, na minha opinião, percebi que Italo Calvino, autor da obra, faz uso de três categorias claras de escrita:
A) Descrições arquitetônicas ou organizacionais sobre as cidades;
B) Descrições físicas ou psicológicas sobre as pessoas das cidades;
C) Reflexões filosóficas sobre os textos que misturam a opção A com a opção B.
Para mim, o tipo de escrita C é quando o livro realmente brilha. Nesses momentos, você repara que Italo, na verdade, não está descrevendo cidades, mas sim a consciência humana. É, de fato, uma leitura única, bem como também é, de fato, uma leitura entediante durante a maioria das páginas.
Acho importante, porém, destacar que vi muitos relatos sobre jogadores de RPG ou contadores de histórias que se inspiraram na escrita de Italo para dar vida à uma ambientação fantasiosa em suas próprias criações. Vejo esse potencial. O tipo de escrita A e B podem muito bem servir como um backlog de referências criativas, mas não é o que As Cidades Invisíveis foi para mim.
Como disse no início da minha resenha, infelizmente não sou o público-alvo da obra. Esse é um livro que apenas será tão profundo e marcante quanto você está disposto a racionaliza-lo ou senti-lo. Como Marco Polo, personagem da narrativa, diz:
- Eu falo, falo, mas quem me ouve retém somente as palavras que deseja... Quem comanda a narração não é a voz, é o ouvido.
Por agora, levo comigo 6 ou 7 trechos filosóficos e ideias curiosas, mas garanto que já me esqueci de pelo menos 70% dos textos que li por aqui. Talvez no futuro, com mais anos de vida, eu possa reler As Cidades Invisíveis e me conectar um pouco mais com sua escrita experimental.
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Para finalizar, esta é a minha avaliação pessoal, por área de análise, da obra:
(As notas, aqui, vão de 0 a 5)
- Enredo: 0
- Personagens: 0
- Tema e capacidade reflexiva: 5
- Estilo de escrita: 1
- Contexto histórico, temporal e espacial: 2
Nota final: 1.6 estrelas.