spoiler visualizarErich 11/07/2022
Essa é minha primeira leitura de Lovecraft. Vim até ele por dois motivos simples: Cthulhu e "o que afinal estão chamando de terror?".
Nesta coletânea estão presentes os contos: Dagon, Ar frio, O que a lua traz consigo, A música de Erich Zann, O modelo de Pickman, O assombro das trevas, O chamado de de Cthulhu. De modo geral, Lovecraft explora do limiar entre o real e o fantástico. É como se andássemos por uma rua comum da cidade e, repentinamente, ao olharmos para um beco, tivéssemos um vislumbre de algo que 'não pode ser real' e somos deixados a decidir se o que vimos foi ilusão de nossos olhos ou não.
Destes, o único conto que me pareceu terror-terror realmente foi o modelo de Pickman. Em certo ponto fui levado a recordar aqui do conto "O retrato" de Gogol (que por sua vez chama à memória o retrato de Dorian Gray). O terror me parece vir neste conto dele se aproximar de mitos mais comuns e trazer de modo mais brusco o fantástico à realidade cotidiana.
O hiperrealismo das imagens é intensificado desde o principio, e é isto que me faz imediatamente recordar de outros escritos onde o mesmo aspecto é trazido. A pintura quase que dando vida ao pintado. Monstros no porões, monstros nas estações de metrô, monstros à espreita no escuro, ...
Lovecraft vai aos poucos nos preparando para que tem que existir um motivo para isso, como que as imagens monstruosas são tão realistas? Ao fim, quando nosso personagem-guia observa uma fotografia que pegou por acaso, temos a conexão final: um dos monstros pitados está na fotografia. A imagens são realistas pois os monstros são reais. Naturalmente, depois disso tudo aquilo que foi visto em pintura - e classificado como irreal - é imediatamente aceito como realidade.
Os outros contos que gostei no livro não me despertaram um sentimento que eu vincularia ao terror, mas sim à literatura fantástica.
- Ar frio, me recorda em certos pontos O Homem Invisível, de H.G. Wells. E meio que nos faz pensar, tal como é provocado por Wells, no limiar entre a ciência e o fantástico.
- A música de Erich Zann trás um interessante pulo do comum ao fantástico. E toca na nossa incompreensão do que existe ao nosso redor.
- O assombro das trevas coloca em cheque a curiosidade humana. Constrói um bom exemplo de que às vezes é melhor permanecer ignorante.
- O conto de Cthulhu trás um belo emaranhado de conexões que vão se abrindo aos poucos e carrega em si a ideia de que nós - humanos - somos nada comparados ao que existe no universo.