Val Alves 26/07/2020
Contudo "é preciso cultivar o nosso jardim"
O nome de Cândido não é por acaso: ele é aquele cara tão inocente, bom e puro que chega a ser bobo. E isso lhe rende muito sofrimento e uma série infinita de desventuras. Ele cresce sob a tutoria do sábio Panglos (dizem que esse era uma caricatura de Leibniz) que pregava o Otimismo, uma ideologia que mais colocava o indivíduo sob o conformismo do que possibilitava uma visão menos dura sobre a sua realidade.
Cândido viaja pelo mundo e conhece versões totalmente antagônicas ao "melhor dos mundos possíveis" que aprendera com Panglos. E, mesmo passando por todo tipo de desgraça, não abandona as justificativas positivas e a visão otimista para tudo.
Voltaire criticava esse pensamento de forma implacável, e o humor do seu texto é ácido e duro. Ele faz Cândido passar por situações degradantes para contestar o seu modo de pensar.
Claramente sua intenção é nos fazer questionar e por fim concluir que, em frente à uma situação de sofrimento, desigualdade ou injustiça a tendência a aceitar de forma passiva cada acontecimento e justificar que tudo é como tem que ser, na verdade é um desperdício de inteligência, uma forma de alienar- se à maldade humana e assim fazer perpetuar as condições que mantém o domínio de um grupo sobre os demais.
Apesar de tantas desgraças, Voltaire nos entrega um texto maravilhoso, divertido, agradável de se ler; daqueles que a gente se questiona "por que não li esse livro antes?".
"Mas com que fim então este mundo foi formado?" disse Cândido.
"Para nos deixar com raiva", respondeu Martinho."