Vania.Cristina 29/11/2023
Robôs, mistério, fobias e tabus
Dois gêneros deliciosos misturados na mesma narrativa: mistério policial e ficção científica. Esse é o segundo livro da série e trás os mesmos protagonistas: Elijah Baley, o detetive terráqueo e Daneel Olivaw, o robô humanóide, detetive do planeta Aurora. Nessa segunda história, Elijah está à vontade com Daneel, já confia nele, e é uma pessoa mais aberta a evoluir como indivíduo. Só que agora Elijah vai enfrentar um desafio muito maior, e será obrigado novamente a se desconstruir, saindo totalmente da sua zona de conforto. Ele será convocado a trabalhar na solução de um crime que aconteceu no planeta Solaria. Os terráqueos vivem a muito tempo nos subsolos do planeta Terra e tem aversão à ideia da imensidão da superfície, do ar livre, e à ideia da conquista espacial. São avessos também aos humanos siderais, aqueles que há muitos anos deixaram a Terra para colonizar novos planetas. Os siderais, por sua vez, consideram os terráqueos inferiores, primitivos e até mesmo sujos, contaminados com vírus e bactérias. O livro fala muito de fobias, cada sociedade tem uma e a entende como normal, confortável. Os terráqueos têm fobia de espaços abertos, os siderais de contaminação. Elijah se vê, então, sendo obrigado a viajar para outro mundo, onde vai ser confrontado com seus medos e preconceitos, e com os medos e preconceitos dos outros. Em Solaria ele irá reencontrar Daneel, e juntos vão se deparar com uma sociedade humana que está levando seus medos a extremos perigosos. Os solarianos têm aversão ao contato físico, que encaram como tabu, e adotam o contato virtual como prática social. Nem os filhos crescem com os pais. Como numa sociedade assim uma pessoa pode ter sido assassinada? Sem vizinhos próximos, sem nenhum tipo de relacionamento presencial, tendo por perto apenas um exército de robôs serviçais... e a esposa da vítima. O sexo no casamento é a única relação tolerada, e mesmo assim, evitada ao máximo. As casas são espaços enormes, onde as pessoas passam a maior parte do tempo, mas os casais mal se encontram no dia a dia. Em Solaria não há diferentes classes sociais, todos são privilegiados e vivem com o máximo conforto. Então, o óbvio a concluir é que a assassina só pode ter sido a esposa, a única pessoa suficientemente próxima, mas não há motivo evidente e nem a arma do crime foi encontrada. Cabe a Elijah entender como funciona esse mundo, tão diferente do dele, superar o senso comum, e desvendar um crime. No processo, superar seus próprios medos, seus preconceitos e aprender mais sobre si mesmo.