spoiler visualizarGuilherme 12/06/2023
Resenha Fúria Vermelha de Pierce Brown.
Fúria Vermelha é um livro de ficção científica lançado no Brasil em 2014 pela editora Globo. possuindo 468 páginas e sendo o primeiro volume de uma trilogia.
Resumo: Em algum momento no futuro, a humanidade colonizou outros planetas, mas em consequência disso estabeleceu-se uma sociedade baseada em castas, tendo cada camada social uma cor. A história acompanha Darrow, um jovem da classe mais baixa que busca vingança após a morte de sua esposa, mesmo que isso signifique ir contra as regras dessa sociedade.
Antes de continuar devo dizer que sabia muito pouco do livro antes de começar, apenas que se tratava do primeiro de uma trilogia e que era de ficção científica. A comparação com Guerra dos Tronos que se encontra na capa me fez ter expectativa, mas logo percebi que tal correlação não poderia ser mais desonesta.
Trata-se de um livro de ponto de vista único, o que em tese deveria o tornar mais fluido. Infelizmente o protagonista (Darrow) carece de carisma e isso não ocorre. O universo em que se encontra parece engessado. Os personagens ao seu redor servem apenas como degraus para que ele possa seguir seu caminho.
Para continuar eu acho interessante apresentar o termo Fridging que parece se encaixar na questão aqui apresentada. Fridging ou fridging trope é uma prática narrativa em que uma personagem (geralmente feminina) é morta de maneira violenta, como forma de dar motivação a outro personagem (geralmente masculino) e impulsionar a história. Essa tática já foi muito usada antigamente e vejo muitos criticando o seu uso hoje.
Bom, neste livro isso acontece logo no começo, sendo Eo, a mulher de Darrow a ‘vítima’. Sério, nunca vi um personagem jogar a vida fora tão rápido ou por motivo tão pequeno.
Na verdade, o começo do livro no geral é extremamente fraco e previsível. A importância dada ao protagonista, mesmo quando ele ainda é um escravo vermelho, não faz sentido na segunda metade da história.
A construção do mundo também é confusa e pouco explorada. O autor cria um sistema de castas baseado em cor e 95% do livro se passa em um lugar onde isso não interfere em nada na história.
Para melhor esclarecer esses aspectos eu tenho de contar um pouco da narrativa e por esse motivo optei por não separar a minha resenha em tópicos como costumeiramente faço.
Basicamente, após nosso protagonista ter sua mulher morta ele se une a uma facção rebelde (filhos de Ares) que pretende destruir o sistema de castas. Sem nos ser explicado o motivo que uma rebelião convencional estaria condenada ao fracasso, nossa célula rebelde decide que a melhor opção é infiltrar o recém-chegado Darrow na sociedade ouro (a dominante). Para isso eles recriam seu corpo para ser mais mortífero e forçam um aprendizado artificial com auxílio de chips de aprendizagem (por que não fazer isso com todo mundo? não sei).
Isso, no entanto, não é o bastante. Darrow terá de passar por um processo de iniciação que todos de sua idade na sociedade ouro fazem e, apesar de os filhos de Ares conseguirem forjar uma família falsa, esse exame especificamente não pode ser fraudado.
Neste ponto, dar se fim a primeira parte da história, e devo dizer que tudo o que foi contado até aqui perde importância, pois somos introduzidos ao conceito de jogo de casas.
O ritual de passagem consiste em um jogo. Os mais mortíferos dos ouros são separados em casas baseadas em divindades greco-romanas onde o intuito é a conquista de todas as demais.
Nisso toda a parte de ficção científica é jogada fora e é adotado o cenário medieval, salvo raríssimas exceções.
A partir desse momento acompanhamos Darrow criar e desfazer alianças e superar obstáculos que parecessem impossíveis. Sinceramente, esse cenário funciona melhor que o inicial do livro, mas não demora muito tempo para perceber que o protagonista possui uma senhora armadura de roteiro.
O livro vai ficando cansativo, pois nada parece ser páreo para o protagonista. Até mesmo quando é confrontado por Cassius e é deixado para a morte, do nada ressurge um personagem e salva o protagonista.
Nem mesmo uma fraude e a influência indevida dos instrutores é capaz de frear Darrow que eventualmente ganha o tal jogo e conquistando o direito de pertencer a sociedade ouro, apesar de ficar implícito que ainda terá um outro treinamento pela frente.
Somos então premiados com nosso protagonista jurando lealdade ao homem que matou sua esposa, com intuito de ganhar influência e eventualmente trai-lo nas sequências. Sinceramente, isso é um tanto indigesto. O autor não estava buscando um subtexto de corrupção. É apenas um cliffhanger para os próximos volumes.
Não entendo a posição do autor. A maior parte do livro acompanha os sofrimentos aos quais os Ouros são submetidos para que um dia possam liderar aquela sociedade. Isso por vezes parece uma justificativa a estrutura hierárquica que o autor busca criticar
Duvido que isso tenha sido intencional, pois apesar disso tudo, ainda é uma história de vingança e de rompimento com o sistema. Então qual o sentido ? Não sei e não pretendo descobrir.
Conclusão
Fúria vermelha é um livro que não sabe como chegar aos seus objetivos. Ele abandona a ficção científica e o primeiro terço da história, tudo com intuito de babar ovo no protagonista em cada uma das suas conquistas.