Kennia Santos | @LendoDePijamas 19/01/2016Você me faz te amar, e essa deve ser a maior coisa que meu coração já foi digno de fazer.Violet Markey tem a vida perfeita: é popular, tem boa aparência, um namorado ‘perfeito’, família que a apoia e planos para o futuro. Até que algo terrível acontece e abala a sua vida de forma traumática e a deixa em pedaços.
Theodore Finch é um enigma: é tachado de ‘aberração’ por todos da escola, vive dando sumiços e tem comportamentos que todos à sua volta definem como no mínimo suspeitos.
Quando Violet e Theodore se encontram na torre do sino da escola, com o objetivo de tirar a própria vida, algo os impede de completar o desejado, mudando repentinamente o rumo de suas vidas. Quando o professor de geografia implanta um projeto sobre conhecer lugares em Indiana e explorá-la, Finch encontra uma maneira de recrutar Violet como sua dupla. O que vem a partir daí? Uma série de jornadas com aprendizados e conhecimentos.
Vi em algumas resenhas, pessoas resumindo o livro em termos como suicídio, depressão. O que pode induzir a outras pessoas a não lerem, por acharem que se trata de dramas e desvirtuações sem sentido. Definitivamente não sou alguém que exala sentimentos e romance, mas apenas uma pessoa bastante insensível pra definir o enredo e personagem com esses dois termos.
O livro é tão, TÃO mais do que isso.
Jennifer Niven, com uma escrita perfeita e equilibrada, consegue transformar o que é rotulado como trágico e dramático em algo que se induz ao aprendizado, e a abrir os olhos para as possibilidades do mundo, enxergar e aproveitar tudo que está a sua volta da melhor forma possível, deixando sua marca onde for.
“O que percebo agora, é que o que importa não é o que a gente leva, mas o que a gente deixa.” (p.316)
Finch, é uma figura, um ser humano paralelo, cheio de incógnitas e questionamentos, que carrega um peso insuportável nos ombros onde nem mesmo duas pessoas seriam capazes de carregar, e transforma essa dor em algo vivo, cru, magnético. Se ele tem fases obscuras, onde se sente um nada e inútil? Claro que tem, afinal ele é um ser humano, correto? Todos temos crises existenciais. Mas Finch tem uma forma de lidar com isso cheio de vida, que ao invés de ser um peso para quem está à sua volta, é alguém com curiosidades, peculiaridades e conceitos jamais cogitados ou conhecidos.
“Não tem problema rir, sabia? A terra não vai se abrir. Você não vai para o inferno. Acredite. Se existe inferno, eu vou para lá antes, e eles vão estar muito ocupados comigo pra fazer o seu check-in”.
Ele é isso. Alguém capaz de questionar um comportamento e desviar a justificativa de forma sarcástica e de forma que te faça avaliar tal coisa.
Violet é uma personagem que no início, é tímida, reservada, impenetrável, e de certa forma até ignorante. Mas Finch, com seu jeito e muita sutileza, jamais deixando de ser ele mesmo, vai derrubando essas barreiras e redescobrindo a verdadeira garota atrás dos óculos de grau e da fachada de heroína e boa-moça.
Finch e Violet são um casal enigmático, com diversos emblemas pessoais de nível altamente traumático, que estão aos pedaços e desanimados. Que, a princípio embarcam numa jornada sem saber o verdadeiro sentido dela, ou a razão para estar nela.
Mas, juntos, conseguem transformar o desânimo em vontade, os pedacinhos em algo sólido. Pelo menos para um deles.
“Você foi, sob todos os aspectos, tudo que alguém poderia ser [...] Se existisse alguém capaz de me salvar, seria você.” (p.267)
Jennifer Niven está de parabéns por essa história altamente comovente e que nos faz prestar mais atenção aos detalhes da nossa vida e dos que estão ao nosso lado. Esse livro transmite valor, equilíbrio e reflexão, mostrando que nem sempre a visão de um ato pode ser interpretada de forma igual por todos os seres humanos, somente porque existe UMA definição. O que para alguém pode ser definido como covardia, para outros pode ser definido como mudança, coragem.