fernandaugusta 25/12/2021O Voo da Libélula - @sabe.aquele.livroNa madrugada de 23 de dezembro de 1980 um Airbus que havia partido de Istambul para Paris caiu no Mont Terrible, divisa entre França e Suíça, em meio a uma tempestade. Além da queda, a aeronave pegou fogo, deixando 168 mortos e apenas uma sobrevivente: uma bebê de 3 meses, encontrada próxima da fuselagem em chamas.
O problema é que havia duas bebês a bordo, e não havia como determinar a identidade da sobrevivente. Seria a miraculosa "Libélula", como foi apelidada a bebê a herdeira da poderosa família Carville, ou a neta dos humildes Vitral - Lyse-Rose ou Émilie? Na dúvida, a chamam de Lylie.
Em meio a uma arraigada disputa judicial em que um juiz decidiu a identidade e tutela da menina, formou-se a rivalidade entre as famílias. Do lado dos Carville, o poderoso Léonce, avô de Lyse-Rose compra advogados, provas e está determinado a provar que a sobrevivente é sua neta. Do lado dos Vitral, o apelo midiático da história. Mesmo com a decisão judicial, paira sobre a identidade da menina a dúvida, em um mistério não solucionado até ela completar 18 anos.
Neste tempo, o detetive particular Crédule Gran-Duc foi contratado por Mathilde de Carville a peso de ouro para investigar qualquer evidência desde o acidente. 18 anos de investigação infrutíferos, que levaram o detetive a um quase suicídio, até que, em uma epifania ao olhar um jornal da época, ele soluciona o mistério. Porém Gran-Duc foi assassinado antes de revelar a verdade. Resta a Marc Vitral, irmão apaixonado de Lylie e a Malvina de Carville, a louca irmã de Lyse-Rose, solucionarem o suspense sem fim.
Esta história foi habilmente construída por Michel Bussi, e resultou em um mistério instrincado, cheio de voltas e reviravoltas até as últimas páginas. O autor não deixa pontas soltas e o final é satisfatório. Porém não temos a escrita eletrizante de um thriller, e em alguns momentos a história se arrasta em descrições e repetições - a meu ver - desnecessárias e cansativas. Também não consegui sentir empatia com os personagens, todos estão debaixo de tantas camadas de segredo e problemas que para mim foi difícil ter uma conexão com eles, ou torcer para o lado Carville ou Vitral, por exemplo.
Abordando diversos dilemas morais, como até onde ir para se solucionar um mistério, maquiar a verdade e criando personagens complexos em relação a sua própria identidade e moral (a relação quase incestuosa de Lylie e Marc é um exemplo, assim como o jogo duplo de Grand-Duc) nos vemos as voltas em 400 páginas de leitura.
Mesmo com a enrolação de alguns momentos, recomendo este livro pelo enredo instigante e pelo fato de o autor segurar muito bem, até as últimas páginas, o mistério da identidade da sobrevivente, em um final inesperado e surpreendente.