Ludmilla Silva 23/01/2018“Help me Obi-Wan Kenobi you’re my only hope” Obi-Wan Kenobi é um dos Jedi’s mais queridos de toda a saga Star Wars, principalmente, é claro por causa da frase tão icônica mencionada pela Princesa Leia no episódio IV “Uma Nova Esperança”. No entanto, mesmo sendo um dos personagens mais amados dessa saga sua vida ainda permanece misteriosa para os fãs. É claro que as prequels e a série animada “The Clone Wars” preenchem parte dessa lacuna do passado de Kenobi muito bem, entretanto, muitos acontecimentos a respeito da vida deste Mestre Jedi ainda continuam envolta de uma enorme névoa de mistério. Por exemplo, quem nunca teve curiosidade para saber o que exatamente Obi-Wan fez durante seus mais de 20 anos de exílio em Tatooine? Será que ele se isolou completamente? Fez amigos, inimigos? Chegou a formar uma família?
Essas certamente são algumas das questões que todo fã de Star Wars já se perguntou várias e várias vezes. E devo dizer que esse livro de John Jackson Miller é responsável por satisfazer algumas curiosidades a respeito da vida do Mestre Jedi. Apesar de a história aqui não ser considerado cânone pela linha do tempo oficial de Star Wars (a.k.a Disney) muitas dúvidas e curiosidades a respeito da vivência no planeta desértico e da vida de Obi-Wan são respondidas. É claro que o autor não conta sobre a vida de Kenobi durante todo o tempo que ele ficou no planeta natal de Anakin e sim apenas durante os primeiros meses/anos de exílio, o que já é o bastante para um ótimo enredo e incrível ambientação da vida do mestre Jedi.
A princípio achei que a história focaria apenas em Obi-Wan, no entanto, foi interessante ser introduzida a novos núcleos da história e principalmente a novos personagens que primeiramente pensei que seriam chatos e decepcionantes, porém, acabaram por me surpreender bastante. Nesta história somos apresentados a alguns protagonistas além de Ben, eles são Orrin Gault um dos fazendeiros de umidade de Tatooine, Annileen Calwell dona de um armazém no deserto e também a A’Yark um dos líderes do Povo de Areia. Personagens completamente diferentes entre si, mas que acabam por ter um papel de extrema importância na vida de Obi-Wan.
A história do livro começa logo após o episódio III, quando na tentativa de fugir do Império e esconder os gêmeos de Darth Vader, o Mestre Jedi entrega Luke Skywalker para ficar aos cuidados de um de seus familiares, Owen Lars. Após tudo o que aconteceu Obi-Wan se sente na extrema responsabilidade de tomar conta de Luke , por isso resolve ficar em Tatooine, para ficar mais perto o possível do garoto e o proteger de qualquer um que queira lhe fazer mal. Kenobi não sabe praticamente nada a respeito do novo lugar que resolveu se acomodar e vai ser com o tempo e com muita paciência que ele vai tentar se encaixar naquele Planeta tão distinto de Coruscant.
O mestre Jedi nunca teve a intenção de se exibir, queria permanecer por fora do radar para proteger a si mesmo e a Luke, porém, Obi-Wan logo vai perceber que ser um forasteiro em um lugar onde todo mundo já se conhece não é uma das melhores opções para se passar despercebido. Quando em seu caminho acaba encontrando Annileen Calwell e logo depois Orrin Gault, Kenobi logo percebe que não conseguirá aquela vida de descrição que desejou desde o começo. A partir dai tudo começa a ser um desafio para o Mestre Jedi, seus pensamentos são conflituosos entre manter a descrição que tanto desejava ou conhecer um pouco melhor o pessoal do Oásis, a região onde estava morando.
Eu gostei muito da forma como o autor conseguiu manter o personagem extremamente fiel e característico ao protagonista criado por George Lucas. Obi-Wan sempre foi uma pessoa muito ligada a valores, a fazer o bem, a proteger as pessoas e também a acreditar em seus ideais, e neste livro podemos ver essa faceta muito condizente com o personagem. É possível perceber o conflito existente dentro dele entre se envolver ou não se envolver, o conflito que se dá pela vontade de ajudar ou não aqueles que necessitam de ajuda e até mesmo a dar segundas chances para aqueles que não merecem. É muito comum pegar um personagem já existente e distorcer completamente sua personalidade, porém, felizmente, isso não é o que acontece com o Obi-Wan, neste livro ele é muito fiel ao que acredita. Tal personalidade apenas nos dá mais um motivo para admirar esse personagem tão sensacional. Gosto muito também de ver Kenobi relembrando os acontecimentos da Ordem 66 e como aquela eventualidade teve e ainda tem um enorme impacto em sua vida, sobretudo impacto e culpa de influência negativa.
Outro aspecto que me agradou bastante no livro foi descobrir um pouco mais a respeito de Tatooine e da vida que as pessoas levam lá, se não contarmos o universo expandido, a vida no planeta desértico nunca foi muito bem especificada nos filmes. Perguntas básicas como, como essas pessoas conseguem viver em um Planeta com dois sois? Como elas conseguem água? Quais os seus trabalhos ou diversões? São respondidas com muita clareza neste livro, esclarecendo inúmeras questões que a muito tempo estavam sem respostas. Foi bastante interessante descobrir mais a respeito da cultura, dos hábitos e da vida em geral dos habitantes de Tatooine.
A humanização do Povo de Areia ou Tuskens foi algo que me agradou bastante também. Não conhecemos muito sobre essas criaturas nos filmes, apenas sabemos que são um povo selvagem que atacam qualquer pessoa ou vilarejo que estiver em seu caminho e que possuem um estilo de moda um pouco questionável. Não é como se fosse possível criar uma enorme simpatia por essas criaturas quando elas estavam tentando matar Luke no episódio IV. Entretanto, aqui é muito possível criar um laço de empatia com elas ao ficarmos mais conscientes de seus modos de viver, de sua cultura e de suas motivações. Apesar de serem criaturas selvagens, completamente diferentes dos humanos, o autor os humaniza de modo muito natural e sutil fazendo com que o leitor crie uma ligação empática com o Povo de Areia e passe a entender cada vez mais suas justificativas e ações.
O livro é narrado em 3° pessoa e mostra as perspectivas de 3 diferentes personagens, revezando entre os pensamentos de Annillen, de Orrin e de A’Yark. Os pontos de vista de Obi-Wan são apresentados em primeira pessoa, como uma forma de meditação ou mais especificamente como forma de conversa que ele possui com o seu antigo mestre Qui-Gon Jinn. Pensei, logo de cara, que ficaria incomodada com essa forma de narração, principalmente porque as perspectivas de Obi-Wan são escassas em comparação com as dos outros personagens, entretanto, após alguns capítulos descobri que essa maneira funcionava muito bem e que me agradava bastante.
Considero um livro indispensável para os fãs de Star Wars e principalmente indispensável para aqueles amantes do Mestre Obi-Wan. É uma obra que consegue nos dar uma maior perspectiva a respeito da vida em Tatooine e do exílio de Kenobi, abordando suas perspectivas, culpas, pensamentos e ideais. É um livro empolgante e envolvente que mudou completamente o modo como eu enxergava Tatooine. Quem diria que uma história que se passa em sua grande parte naquele planeta desértico poderia ser tão interessante. Incrível, recomendo demais.