Luísa Ribeiro 25/10/2023
Obra de arte
Nunca fiz uma resenha na minha vida, mas depois de ler esse livro, sinto que eu precisava.
Ele é delicado, dinâmico, profundo e atual.
Além de explorar os costumes da época, e desafiá-los também, muitas vezes, apresenta diálogos que eu consigo ver em uma publicação contemporânea. Me impressiona a diferença da Anne Brontë para outros autores da mesma época, ela escreve com objetividade, paixão, pessoalidade e humor.
Além da qualidade da composição, meu motivo para ter gostado também foi bastante pessoal. Me identifiquei pra caramba com a protagonista, a luta dela constante por ter essa necessidade de suportar as coisas, o compromisso com a família, a luz que ela sente ao enxergar que podem haver pessoas que a entendem além de seus familiares. Ela é forte e se sente fraca. Ela é persistente e sente que nunca é o suficiente. É uma protagonista tão bem trabalhada, tão real sabe? Eu amo como ela simplesmente tem momentos que apenas sai para o quarto dela, chora um monte e depois fica tudo bem.
Não sei se é considerado spoiler pois é uma passagem do começo do livro, mas colocarei a partir daqui um alerta se spoilers leves: descreverei uma cena que está, acredito, nas primeiras 60 paginas e colocarei passagens do livro das quais eu gostei.
...
Quando a anne está saindo de casa para trabalhar como governanta pela primeira vez, ela se despede dos pais mas não chora na frente deles. Ela espera chegar no meio do caminho. Porque essa foi uma decisão que ela tomou sozinha, e pela qual ela insistiu muito, apesar dos pais e irmã não apoiarem ela sair de casa para trabalhar.
O sentimento de que, já que a decisão foi sua você não pode permitir que os outros vejam que você questiona sua decisão todos os dias, é muito real, pelo menos pra mim.
Vou citar agora algumas passagens que eu gosto. Não sei se alguém vai realmente ler isso tudo que eu escrevi, mas vai que alguma dessas te convence a ler kkkkkk
"Então você acha que eu ia me empenhar para o divertimento dele! Não, essa não é a minha ideia do que seja uma esposa. A parte do marido é agradar à esposa, não a dela agradar a ele. E se ele não estiver satisfeito com ela como ela com ele, e agradecido por também possuí-la, então ele não é digno dela, é isso." - Rosalie Murray
"Mas, com cuidado, muitas crianças delicadas se tornaram homens e mulheres fortes." - Agnes Grey
"E quanto a toda a sabedoria e bondade você vem tentando instilar em mim, é que tudo muito certo e adequado. Se eu tivesse vinte anos a mais, poderia aproveitar bem seus conselhos, mas as pessoas têm de se divertir quando são jovens. E se outros não permitirem, ora, elas terão de odiá-los por isso!" -Rosalie Murray
"Em que parte da cidade a senhorita vive?- ele. -Nunca consegui descobrir. perguntou. Nunca conseguiu descobrir? Então ele tinha tentado descobrir?" Diálogo entre Edward Weston e Agnes Grey
ele começando a chamar ela de agnes :' ) amo romance de migalhas
Bom, é isso. Não sei se deu pra perceber, mas eu amei o livro. É meu novo livro preferido. Obrigada, Anne Brontë?