Lais 14/04/2020Toma vergonha nessa sua cara e vai estudar garotaSuperestimado, previsível, cansativo e repetitivo.
O livro é narrado em primeira pessoa pela Britt, uma adolescente esteriótipo da dependência feminina, aquela que espera ser salva, por um homem, de qualquer transtorno que apareça. Desde a primeira página isso já fica exposto, e não melhora. Além disso, no contexto social da Britt se enquadra a competição feminina intrínseca a amizade, ou seja, a quase que obrigação social da amizade entre duas mulheres desde haja entre elas disputa que envolva homens ou beleza.
Dito isso, vale ressaltar que as características citadas não estão dispostas de maneira que sejam interpretadas como crítica social - se essa foi a intenção da autora, ficou no mínimo em segundo plano - mas visto pela ótica da personagem inserida nesse contexto, soa mais como normalizado e corriqueiro. Pode ser lido por qualquer pessoa sem conhecimento prévio sobre relacionamento abusivo e estar perfeitamente de acordo com seu modo de vida, sem que a problematização disso leve essa pessoa a refletir por si própria e desenvolver senso crítico.
Então, além da relação tóxica entre mulheres e dependência feminina à imposição do patriarcado, existe o assunto feminicídio, novamente citado sem qualquer estruturação crítica, mas quase óbvia e aceitável para resolução de sentimentos como ciúmes e inveja. Algumas mulheres são assassinadas nesse livro, acontecimentos que são deixados em segundo plano, apenas retomados para validar os ressentimentos das intrigas, dando espaço para as relações tóxicas e abusivas entre as personagens, que ao menos são bem construídos.
Inclusive os pensamentos ingênuos da personagem são os que prevalecem a todo momento e isso irrita, porque pelas entrelinhas ela entende que está em perigo, ela sabe que deve agir, ela tem consciência da síndrome de estocolmo e apesar disso segue sua configuração de sempre que coordena todas as suas ações em favor de ser salva por algum homem. Se a intenção foi mostrar que depois da experiencia ela mudou... Olha, fazer um sanduíche sozinha não prova nada, sério.
Fora as considerações feitas, a repetição de "claramente" "ficou claro" "estava claro" (não sei se foi um erro de coesão da tradutora) torna a leitura já maçante uma perpétua viagem numa mente que divaga sobre apenas um assunto: macho. Britt, já pensou alguma vez que GAROTAS FORAM MORTAS? E que foram mortas porque homens sempre precisam se sentir superiores e tudo o que tu faz é se esforçar pra que eles se sintam? "É difícil resistir ao perigo"? Toma vergonha nessa sua cara e vai estudar garota.