spoiler visualizarmarina.conte.02 02/03/2023
"Vi o que queria ver. Senti o que queria sentir. Ele só fez a parte dele."
Li este livro há uns 5 anos atrás, lembro que, embora o romance tenha me cativado, eu acabei sentindo um pouco de raiva. Resolvi lê-lo novamente neste final de semana, não mudei de opinião, mas a leitura me prendeu até o fim, então esse já o primeiro dos pontos positivos.
A história nos apresenta Cassie, uma atriz que está prestes a ter sua grande estreia na Broadway atuando ao lado de Ethan Holt, seu ex-namorado, ex-colega de palco e a pessoa que deixou ela emocionalmente indisponível. A trama intercala entre o convívio dos personagens atualmente e há seis anos atrás.
A narrativa foca só no casal, não tendo espaço para os demais personagens, os protagonistas são bem construídos e o livro tem uma pitada de comédia e erotismo que contribui para o envolvimento do leitor. Além disso, a opção de intercalar o passado e o presente foi muito esperta, a autora soube utilizar esse mecanismo de uma forma organizada, ligando todos os fatos do presente aos acontecimentos do passado.
Essa forma de narração consegue comprovar a inversão de papeis dentro do relacionamento dos personagens, uma vez que Ethan tinha dificuldades em se comprometer, mas quando volta à vida da Cassie, emocionalmente mais maduro, ela que passa a ser a pessoa distante. Considerando que este é um romance voltado ao público adolescente/jovens adultos, pode-se dizer que se destaca nesta categoria, é bem escrito, bem construído e faz com que as pessoas torçam pelo final feliz pelos personagens (mesmo que não devessem).
"Ele se cobre novamente, tão disfarçado por camadas que eu nem o vejo mais, apenas a dor que ele deixa para trás. Eu o culpo, mas a culpa é minha. Da idiota, romântica e ingênua que sou. Vi o que queria ver. Senti o que queria sentir. Ele só fez a parte dele. Às vezes consigo enxergá-lo, chorando e exposto, e é a coisa mais linda que vejo.
Mas é só uma encenação.
Ele é um ator.
E é muito, muito bom."
Assim, entramos na parte que me deixou indignada da primeira vez e provocou a mesma reação atualmente: eles viviam um relacionamento tóxico. Mesmo isso sendo óbvio para os próprios personagens, nenhum dos dois parece realmente aceitar as consequências disso e amadurecer. É uma dificuldade entender que ninguém muda ninguém e que não importa quantas vezes eles tentem, o resultado vai ser sempre o mesmo no final.
Nem vamos entrar no clichê da menina virgem sem personalidade e do bad boy narcisista que não consegue confiar em ninguém porque sofreu UMA desilusão amorosa na adolescência. Seis anos se passaram desde que se conheceram, SEIS anos, e eles seguem com os mesmos dramas.
Para mim é difícil acreditar que alguém consiga se sentir da mesma forma por alguém que lhe fez tão mal e nunca ter se apegado a outra pessoa nesse período. Eles são dois jovens atores atraentes em Nova York e parece que nunca vão encontrar outras pessoas que atraiam eles da mesma forma. Eles nem tentam.
Com a vida inteira pela frente, acho difícil acreditar que não queiram experimentar outro amor além desse. Além do mais, o fato de todos os demais personagens se referirem à inacreditável química entre eles é bizarro, nada mais acontece no mundo além da atração entre os dois que só aparece mesmo na parte sexual, porque em todo resto são pessoas bem diferentes.
“Ele me beija novamente e tudo se torna uma confusão de línguas e lábios. Não é justo que essa seja sua explicação, porque não consigo discutir com isso. É grande demais para descrever ou intenso demais para negar. Apesar de não ajudar em nada a melhorar nossa situação, me faz querer esquecer todas as coisas que estão ruins. Mas é o que ando fazendo o tempo todo. Deixando passar e aceitando, tão cega de desejo que não consigo dar atenção às minhas necessidades. Não posso mais fazer isso.”
Aí eu entro num outro ponto, felizmente, a pessoa que eu era há cinco anos atrás já enxergava as mesmas problemáticas que eu, e essa pessoa nem sequer existe mais. Quem não amadurece em seis anos? Ainda mais estando bem na fase de início da vida adulta. Como a Cassie não conseguiu transformar o amor que ela sentia por ele em ódio, o ódio em desprezo, e, por fim, o desprezo em indiferença, como as pessoas normais fazem? (Ou sou só eu?)
O livro não dá o desfecho do casal, porque tem uma continuação que eu também já li e talvez resenhe se tiver mais paciência. Francamente, de um ponto de vista um pouco cético, se eles acabarem juntos, toda essa novela vai perder o propósito. Eventualmente, o relacionamento deles vai cair na rotina, essa química não vai durar para sempre e duas pessoas, que claramente precisam de acompanhamento psicológico, nunca vão enfrentar seus próprios demônios e trabalhar no amadurecimento pessoal.
Sei que me empolguei nos pontos negativos, mas quem quiser conferir não vai se arrepender, principalmente quem busca um ler romance bom ou só quiser algo para passar o tempo, já que as idas e vindas deles são puro entretenimento. Como comentei, esse é o primeiro livro da série Starcrossed, o segundo do casal “Minha Julieta” eu li juntamente com o romance “Coração Perverso” cuja protagonista é a irmã do Ethan, Elissa.
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