Breno.Benicio 16/06/2024
Psicose-Resenha
Muitos se enganam ao pensar que "Psicose" (1960) dirigido por Alfred Hitchcock foi uma obra completamente autoral e singular, vítima da própria cabeça de Hitchcock, que por sinal, adorava um suspense/terror. A obra original de "Psicose" teve origem no final dos anos 50 nas mãos do autor Robert Bloch que se inspirou no caso do assassino de Wisconsin, Ed Gein. A obra literaria é uma ode à psicologia humana, responsável por extrair o máximo do inconsciente e explorar a psicose a partir de uma visão interna e externa. No campo interno, o livro explora as nuances e os desejos obscuros de uma personalidade frágil e conturbada, porém, minimamente ciente de suas decisões, com inteligência e capacidade de manipulação direta e indireta. No campo externo, o autor busca uma visão civilizada da situação, fazendo uso da leitura de personagens secundários em prol de oferecer uma dupla visão de um único acontecimento.
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Como um livro de mistério, a narrativa é envolta de diversas reviravoltas. O autor consegue a proeza de manipular e ocultar situações a partir de um contexto diferente, nunca negando, mas também nunca afirmando. Essa subjetividade em excesso permite uma maior imersão à leitura, pois a falta de concretismo aguça o mistério e curiosidade, além de auxiliar na narrativa que embora objetiva, cria e desenvolve personagens ao longo do desenvolvimento sem se perder ou gerar distorção quanto a proposta. Norman Bates é o personagem central e sua figura molda a trama a partir de como o autor desenvolve a capacidade de absorção do personagem, seja em situações do dia a dia, pensamentos intrusivos ou até mesmo uma suposta dualidade a partir de uma verdadeira busca pelo controle, possivelmente ligadas a Teoria Freudiana da Personalidade (Id, Ego e Superego), Norman é construído sobre essa camada psicanalítica, sendo então um personagem bastante curioso e indecifrável.
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Entre os coadjuvantes, Mary Crane se destaca nas primeiras páginas devido a sua importância como o pontapé inicial da história. Mary reapresenta o estereótipo da mulher padrão dos anos 1950. Mary sonha com o famoso "American Dream" mas se vê em uma eterna luta em prol de um casamento que nunca parece estar ao seu alcance. Embora seja uma personagem de curta aparição, Mary representa uma visão desesperada da mulher no século XX, sendo sua motivação compressível, porém, novamente, desesperada.
Os demais personagens surgem com o avançar da história. Garantindo nossa curiosidade, o autor usa as figuras recorrentes de forma menos emocionada para garantir uma visão mais realista do caso, embora, muitos personagens exponham com clareza sua emoções perante cada momento, tornando cada capítulo e cada momento de descoberta ou pistas minimas mais humanos.
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Como um mistério/suspense/terror, o livro se mostra operante nas três qualificações citadas, possuindo um pouco de cada na medida certa. O mistério é envolto no geral, desde a subjetividade até os momentos de investigação, gerando quase um Thriller Policial. O suspense é gerado a partir da relação conturbada entre Norman e sua misteriosa mãe, que aos poucos vai se mostrando mais presentes, embora nunca tenhamos acesso a verdadeira face dela, Norman é realmente o centro das atenções.
O terror vem como uma consequência, presente principalmente no terceiro ato onde o autor se liberta quanto aos plot twists e (principalmente) quanto as atrocidades, nos entregando um dose imensa de tensão seguida por um espanto a partir de das descrições bizarras. "Psicose" termina como uma ficção bem orquestrada a partir de um contexto realista. É uma experiência de leitura diferenciada e estranhamente cativante.