Clarispectiana 29/12/2020
Relato de um Certo Oriente
O Miltom Hatoum tem o dom/poder de nos transportar para um ambiente distinto, misterioso, úmido - algo totalmente distante da minha realidade, mas que mesmo assim me pertence. Sinto como se estivesse visitando o meu passado, mas em lugares e pessoas que nunca conheci.
A história se passa na região amazônica, no século XX, transcorre sobre a história de uma família que veio do Oriente Médio (Líbano). Essa história é contada a partir da visita de familiar, após a morte de Emilie, e as memórias que este traça sobre a sua infância. Portanto, no começo o livro é um pouco confuso, é necessário prestar bastante atenção.
A protagonista (ao meu ver) é uma matriarca católica, forte, com cheiro, tons e personalidade indiscutível - algo como Ursula de "Cem anos de solidão". Além de todo o ambiente retratado, a casa, os objetos (como o relógio gigante) o pátio, os diversos animais e plantas.
É uma literatura que discuti cultura, sociedade, religião, desigualdades, o lugar da mulher nesse contexto e etc.
É tudo tão real na narrativa de Hatoum que você sente os cheiros, os gostos, a raiva, rancor, estupefação e principalmente o calor. A temperatura quente de Manaus, dos personagens, da loja de tecidos, da cafeteria, do suicídio.
Por fim, é válido lembrar que esse romance é o de estreia do autor e foi publicado em 1989.
É um livro que me deixa viva e nua, me deixa livre, inquieta e atenta. Quem saiba eu leio a procura desse sentimento?!