sonia 22/07/2013Releitura de Os 3 mosqueteiros
Em minha adolescência, como amei d’Artagnan! Como me deliciei com este ‘nobre’ Athos, e me apaixonei por estas aventuras de capa e espada!
Aos poucos dei-me conta de que, afinal, estes quatro jovens de ‘nobre’ só tinham mesmo o nome de família. Seu ‘ideal’ era defender sua própria ‘nobreza’ ou, em outras palavras, o direito de viverem sob a tutela do rei, com as mordomias de sua classe social.
Como passavam eles o tempo? Jogando dados, se embebedando, mentindo, seduzindo donzelas, cortejando mulheres casadas, das quais extorquiam dinheiro, sem nenhuma vergonha por serem sustentados por suas amantes; matando-se uns aos outros em duelos, ou matando por dá cá esta palha qualquer pobre diabo que se atravessasse em seu caminho – vide o epísódio do Bastião, onde, só para terem um lugar privado para almoçar, mataram entre 8 ou 12 rocheleses, no intervalo entre as garfadas, rindo do fato de estarem em lugar tão privilegiado que lhes permitia atirar antes de serem vistos!
Valor à vida humana? Nenhum! Nem à deles próprios, pois se desafiavam para duelar pelos motivos mais fúteis.
Ora, aos 14 anos eu imaginava os mosqueteiros charmosos, bonitos, corajosos, e só aos poucos fui-me dando conta da superficialidade de suas vidas, de seus defeitos, e de que as ‘virtudes’ de que Dumas menciona não passavam de arrogância, agressividade, força física, e total falta de escrúpulos. Hoje me pergunto se Os 3 mosqueteiros não tem lá o seu lado irônico, se não é uma crítica antes que um elogio; ao ler com mais atenção as notas de rodapé do autor, dou-me conta de pequenas observações sobre os costumes ‘corteses’ deploráveis (nas palavras de Dumas) que ceifaram a vida de centenas de jovens franceses na malfadada (de novo, nas palavras do autor) instituição do duelo.
Recordando minha admiração por estes jovens tão mau caráter em minha adolescência, percebo que o que eu admirava neles era a ousadia, a possibilidade de transgredir (que me era interdita por minha condição de jovem católica argh); minha própria vida, minhas próprias limitações me atiravam a esta admiração insana. Através de d’Artagnan eu podia viver as loucas aventuras, de modo egoísta, fazendo pouco das regras e das leis, sem respeitar nada além de minhas vontades e conveniências.
Hoje a juventude não mudou. As jovens ainda admiram marginais.Começo a compreender a atitude de certas adolescentes doidas que se apaixonam por arruaceiros nos bailes funk da vida ou que se candidatam a namoradas de bandidos nas prisões da vida. Ou que, na versão menos tola, gritam feito loucas à porta dos hotéis onde músicos bonitos se hospedam sem dar a mínima para a histeria de suas fãs, que não se dão conta do fato.