Julia G 13/10/2017Tempestades de SangueTempestades de Sangue, de Kel Costa, é a continuação do livro Fortaleza Negra, que nos apresentou um enredo próprio com vampiros. Na trama, em algum momento da década de 1980, os vampiros se mostraram aos humanos e passaram a governar os países, reduzindo as diferenças sociais e intrigas políticas. Todo o resto da história é exatamente igual ao nosso, inclusive com músicas e filmes que conhecemos, por exemplo.
No primeiro livro, esse contexto é apresentado ao leitor, mas, por ter muito enfoque no romance e na nova vida de Sasha dentro da Fortaleza, o livro não conseguiu se aprofundar em questões políticas e históricas que rondam a existência dos mestres. Tempestades de Sangue supriu muito bem essa lacuna, com flashbacks e conversas que narram desde o surgimento dos primeiros vampiros e mitológicos até sua participação em importantes momentos históricos. Além disso, o ressurgimento de Rurik, o mestre proscrito, contribuiu para esclarecer os problemas políticos internos dos próprios mestres e revelar aquilo que eles mantiveram em segredo dos humanos até que fosse impossível ignorar: a aliança de Rurik com os mitológicos.
Se em Fortaleza Negra os ataques dos mitológicos se restringiam às cidades desprotegidas, o segundo livro veio para mostrar que lugar nenhum está protegido da mente engenhosa de Rurik. Ainda não acho que as reais intenções do segundo mestre estejam claras, e espero que isso seja melhor trabalhado no próximo livro da série, mas é fato que ele deseja enfraquecer/destruir seus irmãos por algum motivo.
"- Não acreditei quando me deparei com seu cheiro naquela caverna. - Fechei os olhos ao sentir os dedos dele percorrerem meu rosto. - Não conseguia entender sua presença naquele lugar. - Ele segurou meu queixo e me fez olhar para ele. - Você está bem?"
Kel Costa trabalhou muito bem na construção do enredo, ao utilizar elementos que já haviam sido mencionados de forma superficial no primeiro livro para torná-los essenciais nesse segundo volume. Foi o caso, por exemplo, do tráfico de sangue e da Exterminator, que colocaram a protagonista em grandes apuros, mas que garantiram boa parte da ação da trama.
A ação, dessa vez, foi o ponto alto da história. Ela já estava presente no primeiro livro, mas tomou uma proporção muito maior. Acredito que o fato de a protagonista ter buscado se tornar mais forte e destemida fez tudo ser mais interessante, pois neste livro ela fez parte da ação e não ficou só como a donzela indefesa. Além disso, Sasha também não se tornou uma super-heroína com poderes que surgiram do nada. Muito pelo contrário, a autora conseguiu enfatizar suas limitações como humana, sem ir de um extremo ao outro, que era o que eu temia e que colocaria toda a história a perder.
Sasha cresceu muito em relação ao livro anterior. Ela continua irritante e impulsiva, mas depois de todas as suas perdas, suas ações são menos egoístas. Ainda acho que ela não sabe com quem está lidando ao tratar com os mestres e que alguns castigos por ser tão petulante foram bem merecidos - não que ela precise se ajoelhar e lamber o chão que eles pisam, mas a garota vê um deles e quer medir forças, rá! Porém, é indiscutível que ela melhorou substancialmente de lá para cá e que as confusões continuam a persegui-las, mesmo quando ela não contribui para isso.
"Tive que parar de falar quando Mikhail me puxou pelos cabelos e me calou com um beijo. Meus pés chegaram a sair do chão quando ele colou meu corpo ao dele. Sua boa cobriu a minha, os lábios movendo-se junto com os meus. Racionalmente, eu queria bater nele. Mas simplesmente não conseguia ignorar o efeito que o toque dele causava em mim."
O romance, embora tenha menor importância em Tempestades de Sangue, ainda está presente. O relacionamento de Sasha e Mikhail se aprofundou bastante, com conversas mais abertas e DRs relevantes, ainda que o mestre não se abra ainda por completo. Achei Mikhail bem mais fofo agora, embora seu jeito durão precise reaparecer de vez em quando. Kel Costa com certeza sabe criar uma cena intrigante e envolvente, e por isso acho difícil que alguém não se envolva nessa história.
Um presente trazido pela autora nesse volume foi a alternância de pontos de vista entre os capítulos, que permitiu visualizar os acontecimentos pelos olhos de outros personagens. Essa alternância já existia no primeiro livro, mas não achei tão relevante naquele volume. Quem se destacou nesses momentos, sem dúvidas, foi Kurt, o amigo de Sasha com um tombo pelo mestre malvadão Klaus. Kurt finalmente deixou de ser invisível aos olhos do mestre, e tenho certeza que esse núcleo ainda tem muito para mostrar.
Existem ainda outros elementos importantes no enredo, como a família de Sasha, as consequências dos ataques para os moradores da Fortaleza, o sofrimento contido de Victor, irmão dela, entre outras coisas. E tenho uma coisa a dizer: que crueldade que é o último capítulo do livro. É instigante, cheio de mistérios, mas terminar daquele jeito é sofrível. Quem quiser ler a série, tenha em mente que é muito importante ter o terceiro volume em mãos antes de terminar esse.
Depois de Tempestades de Sangue, a série Fortaleza Negra tem tudo para se tornar uma das minhas favoritas de fantasia, mas tudo vai depender do caminho que Ruínas de Gelo tomar. Felizmente já tenho o livro em mãos e devo ler em breve, então conto para vocês nas próximas semanas o que achei do fechamento da série.
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