Cris 29/01/2021
Um retrato vivo do viver de aparências...
"Senhora" de José de Alencar foi publicado em 1877 e narra em terceira pessoa a história de Aurélia Camargo e Fernando Seixas. O livro foi dividido em quatro partes e traz como tema central o casamento por conveniência.
Aurélia, moça órfã e antes pobre e abandonada por Fernando, via-se agora nos holofotes da sociedade. Não mais vivia às penumbras da mãe costureira, mas sim, ostentava a exacerbada riqueza conquistada por meio de uma herança de seu avô paterno.
Desta vez o amor que ainda sentia por Fernando Seixas resumia-se a um contrato de compra e venda. Fernando deixava de ser livre como bem entendia e pertencia a ela, era seu... digamos, escravo branco. Babado rs!!!
" Vendido! ? exclamou Seixas ferido dentro d?alma.
? Vendido, sim; não tem outro nome. Sou rica, muito rica, sou milionária; precisava de um marido, traste indispensável às mulheres honestas. O senhor estava no mercado; comprei-o. Custou-me cem mil cruzeiros, foi barato; não se fez valer. Eu daria o dobro, o triplo, toda a minha riqueza por este momento."
Sei que estou no meu melhor momento para ler essa leva de clássicos nacionais tão temidos e até odiados por muitos estudantes. Isso se dá a um imenso fato: estou lendo por prazer, não obrigação. Comecei com "Dom Casmurro" de Machado de Assis e cá estou me familiarizando com o tal Zé de Alencar. E ler José de Alencar foi fácil, leve. Uma verdadeira delícia! Ao passo que sua romanceada narrativa me fazia torcer pelos protagonistas mesmo sabendo de tudo que eu sabia, sua sagacidade trazia à tona um dos piores males da humanidade: o viver de aparências! Trilhando caminhos entre o orgulho, o ego ferido, o ressentimento, o perdão e a redenção, José de Alencar conseguiu ensinar e deixar seu recado cravado no coração de quem que leu "Senhora". Os personagens ali tão bem construídos e banhados numa caricata sociedade a mim convenceu e rendeu alguns sentimentos conflitantes permeados entre o amor e a raiva. Seu desfecho, enfim, arrancou-me suspiros e risos tímidos pertinentes à época do falecido autor. Embora ame o livro com todas as letras, julgo precoce demais classificá-lo como "meu clássico nacional favorito", sinto que ainda tenho um longo caminho pela frente, há infindáveis autores merecendo a minha atenção. ?