Paulo 09/01/2019
"Beija meu nariz, desgraçado!"
Ozob é um replicante que nasceu nos Nerdcasts especiais de RPG, o podcast do famoso site Jovem Nerd, e rapidamente ficou extretamente popular entre os ouvintes. Ozob Protocolo Molotov nos conta a história do pós-humano antes dos acontecimentos do Nerdcast RPG: desde o seu “nascimento”, aos primeiros meses com a família e as histórias que construíram o personagem e o tornaram o que nos foi apresentado nos programas, tendo sido feito sob medida para os entusiastas da trilogia cyberpunk dos nerdcasts de RPG, expandindo o universo apresentado e aprofundando um de seus personagens mais criativos.
Agora, se você nunca escutou os programas, mas gosta de RPG – o livro por diversas vezes parece uma grande aventura de RPG, com chefões de fase e NPCs curandeiros – e da construção de personagens, gosta desta ambientação distópica, de teorias da conspiração, de personagens insanos e de muita ação e violência, pode ter certeza que vai curtir a leitura também! Mas já fique avisado: Leonel Caldela não é um autor conhecido por poupar o leitor. O livro é amargo na maior parte do tempo, e possui cenas de violência em diversos momentos: temos desde cenas de pancadaria franca, mutilação e tortura, ao uso de drogas, escravidão, cárcere privado, abuso mental e corporal, opressão capitalista a níveis inimagináveis e um sentimento de impotência. Leonel, definitivamente, não fez essa história para te inspirar ou te deixar feliz – apesar de, como falarei adiante, o arco de Ozob possuir uma mensagem poderosa sobre o sentido da vida.
Narrativamente falando, o livro possui algumas barriguinhas, alguns capítulos mais arrastados mais pro final do livro, em que nada de fato acontece; apenas ação desenfreada e um corre pra lá/ corre pra cá. Mas fora isso, a leitura é muito fluída, o ritmo narrativo é muito intenso e a história intrigante o suficiente para você não querer abandonar a leitura.
E se a princípio o livro pode parecer apenas uma aventura grotesca, porém divertida, num mundo distópico, sem maiores intenções além de divertir – ou embrulhar o estômago – o leitor enquanto aprofunda a mitologia de um personagem bastante popular criado em outra mídia, Protocolo Molotov possui camadas que dão a leitura um “quê” a mais. A começar com a construção deste mundo futurista ultracapitalista, que como em toda boa distopia, usa problemas de uma sociedade controlada apenas pela iniciativa privada para discutir os problemas e as desigualdades do mundo em que vivemos. Além disso, os próprios arcos de desenvolvimento do protagonista e do personagem Johnny Molotov são um petardo à parte. A origem de Ozob é criativa e bizarramente insana como o próprio personagem, além de ser muito bem elaborada. Mas é a evolução do personagem, cujo ápice é a explicação do porquê ele usa uma granada no lugar do nariz, um dos pontos mais altos da leitura. O livro possui uma mensagem poderosa, ainda que talvez sutil, sobre o sentido da vida, sobre subversão e rebeldia. Afinal, estamos vivendo ou apenas existindo? Soma-se a isso o arco do músico Johnny, a mensagem sobre o poder disruptivo e subversivo da música, e dos custos da rebeldia juvenil. Afinal, é fácil querer queimar o mundo quando se é jovem, mas muito mais difícil fazer isso na meia-idade. E se você acha que o livro exagera um pouco nisso, basta observar a recente tentaviva do presidente russo Putin de proibir e controlar para limitar a influência do rap e da música jovem na Rússia, que segundo ele são um caminho direto para a degradação do povo.
Enfim, se eu pudesse resumir Ozob Protocolo Molotov em uma única palavra, eu ficaria entre INSANIDADE e OPRESSÃO. Ainda não decidi qual das duas pende mais na balança.
Pra quem ainda não conhece, me acompanhe lá no site Portfólio da Vida. O site ficou um tempo fora do ar, mas estou voltando a escrever, e sempre dou dicas de livros, filmes e quadrinhos, de maneira mais completa do que posto aqui.
Link do resenha completa de Ozob: http://portfolio-da-vida.blogspot.com/2019/01/ozob-procolo-molotov-vale-leitura.html
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