Bella Nine 12/01/2013Os 13 porquês – um choque de realidade nas relações interpessoais. Quando comecei a ler este livro não fazia ideia de onde estava me metendo. Quer dizer, eu sabia que o enredo era sobre as treze razões que fizeram Hannah Baker cometer suicídio. Só não sabia que me envolveria tão fundo neste enredo tenebroso.
Okay, vocês devem estar se perguntando: o que há de tão tenebroso com este livro? Estamos falando de uma adolescente fraca que, após algumas decepções com a vida, decidiu dar fim ao sofrimento. Quer saber, eu pensava o mesmo. Sim, pensava, até ler esta história e entender que não se trata de fraqueza, mas de cansaço.
Hannah descreve os acontecimentos como uma bola de neve que cresce a cada nova sensação desagradável que a preenche. Tudo começou com um boato. E quer saber, quantos de nós já não fomos vítimas de uma fofoca? Quantos de nós não fomos perseguidos por algo inverídico inventado por alguém que, sem motivo aparente, desejou nos difamar perante uma turma de amigos, de colegas da escola, do trabalho, de onde quer que seja? No começo, até mesmo com Hannah, estava tudo bem o boato ter sido espalhado por toda a escola. Quer dizer, por pior que ele fosse, ela sabia que o mesmo não era verdade e, para dizer a verdade, ela jamais imaginou que o mesmo tomaria proporções tão grandes, quanto a que se tornou. O problema do boato, não é ele em si, mas as pessoas que o escutam. São elas que definirão se este é ou não verdadeiro e, sobretudo, se outras pessoas, como eu e você, por exemplo, devemos acreditar nele ou não. E, para ser sincera, por mais que não queiramos acreditar neste enredo fantasioso, tememos saber a verdade, nos acomodando em vê-lo rolar de um lado para o outro, querendo que o mesmo não nos atinja. Sentimo-nos tentados em ir atrás da pessoa e questioná-la sobre o fato espalhado, porém, por mais que desejemos uma explicação clara das coisas, o medo de sermos flagrados conversando com a pessoa que está sofrendo a fofoca é tão grande, que preferimos apenas observar.
Você sabe do que eu estou falando: bullying. Alguém diz a todos que você é uma pessoa fácil, que vai pra cama com o primeiro que encontra em uma balada. Todos te chamam de piranha, vagabunda … garota fácil. Então, seu melhor amigo começa a se afastar de você porque não quer que as pessoas o vejam com você. Porque você sabe, o menino desesperado por sexo, querendo a menina fácil que o faça ter prazer gratuitamente. Porque, obviamente, ele passaria a ser o centro das conversas maldosas, assim como você.
A principio, Clay não compreende porque estava sendo relacionado com as razões que levaram Hannah ao suicídio. Quer dizer, ele sempre foi muito na dele e, lá no seu íntimo, o menino nutria uma paixonite pela garota suicida. Eles estudavam na mesma escola e chegaram a trabalhar em um cinema. E, apesar de tudo isso, eles jamais haviam tido a oportunidade de sentar e conversar. Exceto, uma vez. Uma noite, em uma festa. E, mesmo que tenha sido durante uma pequena parte da noite, que tornou-se catastrófica, os dois não puderam mostrar quem eles realmente eram.
Resenhar este livro está sendo muito difícil. Não, ele não é ruim. Pelo contrário, ele é muito bom. A questão é que as narrativas de Hannah e os questionamentos de Clay são muito intensos, muito profundos e, sinceramente, eles mexeram comigo de uma maneira que não sei ainda como defini-la.
A conclusão que eu tirei foi a mesma que eu já sabia, que eu já vivenciei e ainda vivencio e sei que todos vocês já passaram, estão passando e passarão até o final de suas vidas. Lidar com o ser humano é uma grande merda. Relações interpessoais são abençoadas e, ao mesmo tempo, infernais. Seu amigo é o seu amigo, ao menos até fazer algo que você não gosta. Sua melhor amiga é maravilhosa, até ela mostrar quem de fato ela é. E esse é o problema. Nós mudamos de comportamento constantemente. E esses comportamentos trazem sentimentos e ideias que podem ser boas ou ruins. E, acredite, as nossas decisões influenciam sim a vida dos outros. E, ao final, tudo é como Hannah nos diz desde as primeiras linhas: tudo se transforma em uma grande bola de neve, impossível de ser destruída, de ser parada …. de sumir.
Eu não acho que a pessoa suicida foi fraca. Ela apenas se cansou de vivenciar tantas mentiras, tantas falsidades, tantas situações destrutivas. Porque, se pararmos para pensar, quantos momentos realmente felizes tivemos na vida? Acho que a maioria aqui é capaz de contá-los nos dedos da mão. E quantos desses momentos felizes tornaram-se um rio de lágrimas e dor? Quer dizer, quando você acha que encontro o amor da sua vida, como se isso existisse, e no final das contas ele se mostrou um verdadeiro filho da puta porque te traiu, feriu os seus sentimentos ou, queria que você mudasse quem você é.Sim, tem muito cara por aí que quer que você se adeque a ele e seja o que ele quer que você seja. E ai, me desculpe, não é amor, é egoísmo. É querer algo impossível de ser obtido. É ferir o outro sem se importar com as conseqüências que este ato pode acarretar.
Eu sei, isso não justifica a ação suicida. Mas, é como se uma parte de nós refletisse com é o intuito de prosseguir vivendo em meio a uma sociedade que, incapaz de ouvir o próximo e somente interessada em si mesma, caminhasse rumo a morte, onde os relacionamentos nada mais são do que meras frases todas, superficiais, nas quais não significam absolutamente nada, assim como o vazio que corrói os sentimentos de cada um de nós.