Arthur.Marin 21/03/2024
Livro lido para à faculdade. Trechos importantes:
"Essa descrição, é claro, tem seu valor e seus méri- tos, mas e parcial (no sentido literal e figurado do termo) e não pode ser autoritariamente aplicada a todo o resto da língua afinal, a ponta do iceberg que emerge repre- senta apenas um quinto do seu volume total Mas é essa aplicação autoritária, intolerante e repressiva que impera na ideologia geradora do preconceito lingüístico."
"Como este é um livro que trata de discriminação e exclusão, decidi homenagear meus sogros que são, como costumo dizer, um "prato cheio" para alguns dos preconceitos mais vigorosos da nossa sociedade: negros, nordestinos, pobres, analfabetos."
"Do ponto de vista lingüístico, porém, a língua falada no Brasil já tem uma gramática tem regras de funcionamento isto é, que cada vez mais se diferencia da gramática da língua falada em Portugal. Por isso os lingüistas (os cientistas da linguagem) preferem usar o termo português brasileiro, por ser mais claro e marcar bem essa diferença."
"Todo falante nativo de uma língua sabe essa lingua. Saber uma língua, no sentido científico do verbo saber, significa conhecer intuitivamente e empregar com natu- ralidade as regras básicas de funcionamento dela."
"Todo personagem de origem nordestina é, sem exceção, um tipo grotesco, rústico, atrasado, criado para provocar o riso, o escárnio e o deboche dos demais per- sonagens e do espectador."
"Um ensino gramaticalista abafa justamente os talentos natu rais, incute insegurança na linguagem, gera aversão ao estudo do idioma, medo à expressão livre e autêntica de si mesmo"
"Como eu disse, enquanto a língua é um rio caudaloso, longo e largo, que nunca se detém em seu curso, a gramática normativa é apenas um igapó, uma grande poça de água parada, um charco, um brejo, um terreno alagadiço, à margem da língua. Enquanto a água do rio/língua, por estar em movimento, se renova inces- santemente, a água do igapó/gramática normativa enve- lhece e só se renovará quando vier a próxima cheia."
"Como eu já tinha avisado na abertura do livro, falar da língua é falar de política, e em nenhum momento esta reflexão política pode estar ausente de nossas posturas teóricas e de nossas atitudes práticas de cidadão, de pro- fessor e de cientista. Do contrário, estaremos apenas contribuindo para a manutenção do círculo vicioso do preconceito lingüístico e do irmão gêmeo dele, o círculo vicioso da injustiça social."
"Falar é construir um texto, num dado momento, num determinado lugar, dentro de um contexto de fala defini- do, visando um determinado efeito."
"O problema certamente está no modo como se ensina português e naquilo que é ensinado sob o rótulo de língua portuguesa."
"Toda língua viva é uma língua em decom- posição e em recomposição, em permanente transforma- ção. É uma fênix que de tempos em tempos renasce das próprias cinzas. É uma roseira que, quanto mais a gente vai podando, flores mais bonitas vai dando. E o professor tam- bém deve preferir ser uma "metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo", como cantava Raul Seixas (contrariando, nesses mesmos versos, a "velha opinião formada" de que o verbo preferir não pode ser usado com a construção do que...)."